Ir nos trilhos (publicado originalmente em 18/1/2011)
Baseado em fatos reais, 'Incontrolável' (2010) trata apenas do trem da Pensilvânia que, ao ser mal guiado por um funcionário, é desgarrado do local de origem e, sem controle e em alta velocidade ameaça uma pequena cidade, pois está carregado de produtos tóxicos. Assim, dois condutores de um outro trem, Frank Barnes e Will Gordon, tentam capturá-lo e impedir a grande tragédia que está bem a caminho. Dirigido por Tony Scott, irmão de Ridley Scott, a fita é ágil nos momentos em que tem de ser e por este motivo contagia o público a embarcar na aventura. De fato, é preciso ter fôlego e certa capacidade de tranquilidade a se segurar na poltrona do cinema. São 98 minutos de adrenalina pura.
Com Denzel Washington (Frank) e Chris Pine (Will) encabeçando o elenco, 'Incontrolável' é o tom da mesmice dos outros trabalhos de Tony Scott. A parceria com Denzel, por exemplo, existe desde outros carnavais. A dupla entrou nos sets, por exemplo, em 'Deja vu' (2006) e 'O Sequestro do Metrô 123' (2009) – de péssima qualidade, aliás, ambos. Neste mais recente, pelo menos, o roteiro de Mark Bomback não deixa o filme escapar pelas mãos. Assim, o trabalho de Tony ficou ameno e sem impulsos que poderiam prejudicar a história. Nos trilhos, a trama sobrevive aos trancos e solavancos.
O caso real sobre o trem aconteceu em maio de 2001. Uma composição de 47 vagões andou por cerca de 100 quilômetros e percorreu três Estados até ser parada pelos dois heróis anônimos. A ideia de filmar o fato estava em curso desde 2004. Antes de Tony Scott ser escalado pelos produtores para dirigir, nomes de Robert Schwentke e Martin Campbell estiveram à baila, mas não acertaram os contratos. E com orçamento estimado em 100 milhões de dólares, 'Incontrolável' parece ter usado o dinheiro de maneira proveitosa. Pode ser sim indicado a melhor roteiro original no Oscar deste ano.
Sobre Denzel Washington, há pouco o que escrever. Ao receber a estatueta de melhor ator em 2001 por 'Dia de Treinamento' ele desacertou a cada novo trabalho. Isto confirma a tese de maldição de se ganhar o prêmio máximo do cinema. Astros como Nicole Kidman, Halle Barry e Adrien Brody só pisaram em ovos após saírem do teatro Kodak com o troféu dourado nas mãos. Pelo menos aqui, o protagonista de 'Malcolm X' (1992) deixou o exagero das interpretações de outrora de lado. Mas teve quem ocupasse o lugar dele em 'Incontrolável'. Rosario Dawson, na pele de Connie Hopper, gerente das estações do trem, está histérica na tela. Não era necessário tanto. Acabou ficando meio caricata.
Voltando aos fatos reais, serão igualmente verídicos os bastidores dos casos familiares tanto de Frank como de Will? Creio ser negativa a resposta. E é aí o maior pecado da película. Impor seus dramalhões estilo México ao público é atividade tosca ao meu ver. Mostrar filhas desesperadas ou a esposa que despreza o marido por causa de uma briga soa falso e puro demais. No ponto em questão, 'Incontrolável' merecia o descarrilamento. Noves fora, passa não por decisão do conselho de mestres.
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