O enganador (publicado originalmente em 5/10/2010)
Adam Sandler é um achado. Horroroso, mas um achado. Vejam vocês: ganha milhões por ano para interpretar o mesmo personagem, com o mesmo figurino, as mesmas falas e as mesmas atitudes. E ainda é amigão de Jack Nicholson, com quem assiste aos jogos do Los Angeles Lakers. Agora, o 'Carlitos' da vez encarna o líder de um ex-time de basquete campeão, cujo treinador acaba de morrer. Ele reúne o pessoal da equipe para o último adeus e resolvem passar o fim de semana no sítio no qual comemoraram o título de 32 anos atrás. Daí à frente, 'Gente Grande', que estreou há onze dias no Brasil, é o festival de pastelões, piadas escrachadas, mulheres seminuas e a cara de débil mental de Sandler. Só. Se você tem a impressão de que já viu a história antes, pode ter a absoluta certeza de que você está certo. Este ator é um enganador.
Dirigido por Dennis Dugan (de 'Eu os Declaro Marido e... Larry! – 2009), o longa foi produzido por Sandler e por isto ele faz da trupe de companheiros gato e sapato. É dele as principais tiradas, e não se tratam das melhores da fita, as mais bem acabadas parcerias (Selma Hayek é a esposa na trama) e, claro, o centro de 'Gente Grande'. Tudo passa por ele. Creio por causa disto que Dugan não teve qualquer trabalho para instruir, por exemplo, craques da esculhambação no cinema como Chris Rock, Rob Schneider, David Spade e Kevin James. Soltos, leves (alguns nem tanto) e à vontade a 'cacos', o elenco pula, brinca e... fim.
Li em algum lugar sobre a necessidade de se fazer histórias para se pensar. A gente não quer só rir por motivos tortos, porque alguém cai em cima de uma torta ou na lama e se suja todo. É necessário toda a readaptação da sétima arte a tanto. O ditado diz que 'se o peixe pequeno fosse esperto, tubarão morreria de fome'. Pois se aqueles longas independentes fossem abonados e cheios de influências, talvez, e isso aí só Deus saberia, talvez películas como 'Gente Grande' estivesse seu canto reservado. Mas o público hoje em dia está tão emburrecido, como afirmou Rubens Ewald Filho em entrevista a esta coluna, que a minha esperança sobre este ponto é nula. Está igual a Sibéria: abaixo de zero. Atores-palhaços como A.Sandler e demais nunca terminarão suas óperas-bufas. Como prima-donas, os espectadores, eternos receptadores de besteiras. Vamos absorvendo tudo, até perdermos a paciência, a dignidade e o bom senso. E até quando?
Enquanto esta Nova Era não vem, Sandler incha o bolso com notas de cem. E você sabe qual é a diferença entre ele e José Simão? Nenhuma. Ambos começam e acabam seus trabalhos com igual frase. O colunista da Folha de São Paulo tem o bordão 'eu vou pingar meu colírio alucinógeno'. Já o protagonista de 'Gente Grande' possui o 'vamos todos nos abraçar aqui e ser amigos para sempre!'. Você aguenta isso, em pleno século 21, quase 2011? A carochinha debocharia, gargalhando com as mãos na barriga de dor.
2010 tem sido o ano complicado à sétima arte. Nada de bom no comando. Lá e cá. Daqui a pouco é o dia de indicações ao Globo de Ouro e Oscar e o buraco está formado. A razão, lamentável, é, cada vez mais aumentar filmes como 'Gente Grande'. De grande, só é a futilidade. Sandler é um enganador, repito.