A agonia tem uma cor (publicado originalmente em 29/6/2010)

Se você aprecia bons enredos, daqueles enxutos e bem objetivos, sem qualquer enrolação, então tem que assistir a 'Pânico na Neve' (2010). A fita estreou no país em 28 de maio e chegou a Jacareí sexta-feira passada. É um prato cheio de emoção, tensão e angústia, sentimentos ao mesmo tempo calibrantes e duma taquicardia só. O diretor e roteirista Adam Green –até agora no currículo com filmes 'B', e este não é – fez um longa-metragem pra lá de empolgante. A história lembra demais 'Mar Aberto' (2004), no qual o casal é abandonado ao mar e morre comido por tubarões. E esta tragédia era verídica. Desta vez, o casal Parker (Emma Bell) e Dan (Kevin Zegers) e o amigo deles, Linch (Shawn Ashmore) se divertem numa estação de esqui. Para aproveitar os últimos instantes das suas estadas ali, resolvem ir novamente ao teleférico e descer deslizando. É noite. Aparvalhados, desatenciosos, os funcionários do teleférico vão embora e o trio fica isolado em uma cadeira do aparelho, há metros de altura. No início acham engraçado. Depois, notam a solidão e o perigo. E se ninguém mais aparecer para salvá-los? E se o frio congelante os matar sem dó?

'Pânico na Neve' é independente. Com o orçamento baixo e atores praticamente desconhecidos dos espectadores, Green dá o tom de uma obra que já está marcada em sua carreira. Com direção desprovida de exageros e pretensão, ele fixa na trama uma dose cavalar de desespero e nervosismo. Largados à luz da noite, recheada de cacos de neve, com a tempestade batendo no rosto, os jovens não sabem o que fazer. E se pularem e não sobreviverem? E se tentarem chegar à escada lá atrás e caírem e, de novo, morrerem? Os riscos dobram à medida em que a temperatura abaixa... Escaras na pele, ossos duros de tanto frio, lobos à espreita, desavenças e os arrependimentos marcam estes personagens neste drama cheio de suspense. Não bastassem todos estes predicados, 'Pânico na Neve' envolve o público com a sua linda paisagem branca de neve. Aquele resort é belo, porém coberto de mistérios horrorosos e o trio descobrirá o quão importante é ter esperança, mesmo que mínima, próxima de zero. A proeza da fita é te deixar completamente preso na poltrona do cinema. Esta característica Adam Green tem o poder de conseguir. E com vigor e esplendor.

O longa é categórico ao não deixar ao público a escolha do final do filme. Não há destaque entre os três protagonistas, o que é bom. Tanto Emma quanto Zegers e Ashmore estão regulares em cena. Em nada comprometem o desenrolar. Ao contrário. Com 'Pânico na Neve', aliás, é muito claro como neve a cor da agonia: branca, como escrevi no parágrafo anterior. Repito: se você é aficionado por situações radicais e de absoluto medo, vá ver o mais recente conto de Adam Green. Aposto que depois de 'Pânico na Neve' as sua ida a teleféricos se reduzirá. Eu, pelo menos, supermedroso de altura, não iria mesmo de jeito algum.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 29/06/2010
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