Mudar para piorar (publicado originalmente em 15/11/2007)
Li em algum site da internet a notícia de que os editores do gibi ‘Batman’ estudam matar o justiceiro mascarado em 2008. Não precisamente o herói, mas Bruce Wayne, sua identidade secreta. O rival de Coringa e Pingüim era, se não me falha a memória, o último moicano a sobreviver às peripécias do mundo das histórias em quadrinhos. Superman e Flash, por exemplo, são dois que já experimentaram o barato de ‘passar para o outro lado’ e voltar. A explicação para esta atitude desses manipuladores de desenho é bem simples: queda nas vendas. Ou, para esticar mais o filme, fazer sua autopromoção. O próximo ano marca estréia de “The Dark Knight”, segunda fita do homem-morcego na nova (e discutível) fase, interpretado por Christian Bale (também de talento duvidoso). O gibi do falecimento de Batman seria distribuído, de acordo com a reportagem, no mesmo período de exibição nos cinemas. Marketing? Esperteza? Óbvio. Mas, caros, isto mostra claramente que não se bolam as idéias de antigamente. Heróis não morrem nem adoentam. Jamais. Ficam de geração a geração. É a bobagem da década a batida de botas de Batman. Assim como, anos atrás, ocorreu com “Superman”.
Confesso estar desatualizado em relação às histórias... Assim, levei um susto ao ler que um tal de Tim Drake é o atual Robin, e não mais Dick Grayson, que, por sua vez, encarnou as veste de Asa Noturna! Como ‘atual’? Robin é Robin. Sempre foi Dick Grayson e sempre será. Nada de Tim Drake para melar a festa. E ainda há Jason Todd, o Robin número dois! Não é possível. E ele se transforma em Capuz Vermelho. Depois de passar os olhos na matéria de Rick Johnston, fiquei desconcertado. E imagino: como a DC, empresa responsável pelo desenho do Batman, tem coragem, ousadia de fazer este tipo de idéia andar para frente? Para quê inventar tramas confusas, outros nomes? Sabe-se que o interessante nisto é o dinheiro, mas um pouco de conservadorismo não faz mal a ninguém. Quando o inquestionável Jack Nicholson fez Coringa no longa-metragem de Tim Burton, de 1989, enterrou ali o personagem. Entretanto, puseram Heath Ledger, um dos dois caubóis homossexuais de “Brokeback Mountain” (2005), para refazê-lo. E, pelas fotos divulgadas, o Coringa de Ledger é macabro, de rosto fúnebre e aspecto monstruoso. Parece palhaço de circo com maquiagem toda borrada. Estragaram-no.
Do mesmo modo, os desenhos são demasiadamente ‘futuristas’. Exemplo típico disto foi, não faz muito tempo, o uniforme inteiro metálico de Superman, e, logo após, sua cabeleira à Caniggia. A roupa do Homem de Aço é a capa vermelha com camisa e calça azuis, cinto amarelo e símbolo com o S em vermelho e amarelo. Os cabelos são arrumados. Ponto final. Alguns são favoráveis a tantas mexidas para dar outro pulo, agitar o mercado publicitário. Lorota. Não se necessita disso. Os filmes em nada corroboram estas teses. Brandon Routh se esforçou para imitar Christopher Reeve em 2006 no “Superman Returns”. Quase conseguiu, porque Reeve é eterno e imutável. Aquela gagueira feita de propósito para seu Clark Kent é terna. No livro “Ainda Sou Eu”, editado pela DBA e lançado em 2001, Reeve conta ter se inspirado nos personagens patetas de Cary Grant, outro ícone da sétima arte. Dias atrás, para fazer eco a esta afirmação, revi “Superman III” (1983), o terceiro melhor da série que iniciou em 1978. Com Richard Pryor (!) no elenco, o super-herói luta contra computadores bastante modernos e ágeis (imaginem 24 anos atrás as máquinas moderníssimas das quais o planeta dispunha).
Querer refazer filmes que outrora foram sucessos retumbantes de crítica e bilheteria, como os aqui citados (“Batman”, de 1989, e “Superman” I, II e II, de 1978, 1980 e 1983), chega a ser pífio. A solução, pensam erradamente os editores, é aniquilar heróis. Esta é a criatividade deles. Mudam para piorar. E quanto mais moldam, mais desgraçam. Depois eles ressuscitam, afinal, ninguém é perfeito.