Monumento (publicado originalmente em 8/6/2005)

Dias atrás vi “Quanto Mais Quente Melhor” (1959). Embora o título pareça puxar por erotismo, o roteiro é totalmente o oposto: uma comédia de encher os olhos. A começar pelo elenco, que reunia Tony Curtis, Jack Lemmon e Marilyn Monroe. Em segundo lugar, história completamente divertida: dupla de músicos desempregados testemunha chacina de gângsteres nos Estados Unidos da época da Lei Seca (década de 1920); para não serem encontrados pelos assassinos, embarcam, disfarçados de mulheres, numa excursão onde está uma banda feminina, cuja cantora é simplesmente Marilyn, em seus puros 33 anos. Prato cheio para boas risadas, sobretudo devido a Lemmon, que distribuiu talento até para o furacão loiro (mas não tanto assim, pois a atriz teve de refazer determinadas cenas mais de 40 vezes por não conseguir lembrar de frases curtíssimas, como “It’s me, Sugar”, que ela trocava por “Sugar, it’s me” ou “It’s Sugar, me”). A intérprete de Sugar Kane, como prêmio, ficou com o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia. Sua faceta “loira burra” da fita a ajudou. Mas a beleza ultra e super dela já bastava. Que moça bonita era Marilyn Monroe. No filme, era ela surgir na tela para tudo ficar mais vibrante.

Porém, a atriz teve toques de estrelismo. Insistiu para o filme ser colorido, como era estipulado em seus contratos. Não foi. Billy Wilder, o diretor, penou para fazê-la entender que as maquiagens de Lemmon e Curtis, quando estavam de meninas, os deixavam esverdeados nas câmeras. Depois deste longa, Monroe faria somente mais quatro trabalhos cinematográficos antes de ser achada morta, aos 36 anos, por overdose de barbitúricos. O nome para personagem de Monroe não foi mais apropriado: sugar, em português, quer dizer açúcar. Que doce e delicado... E charmoso também. Ouvir Marilyn balbuciar as falas dela são um programa e tanto para sábados a noite. É difícil imaginar o quanto a vida de MM foi trágica. Por trás dos decotes, estavam nas recordações uma criança que passou, entre os nove e 11 anos, internada num orfanato, e sofreu por não saber suportar a fama que tinha. Passou a abusar deste brilhantismo incluindo cláusulas absurdas em seus contratos. Uma delas era não filmar quando estivesse em seu ciclo menstrual. Se estivesse viva, teria completado 79 anos dia 1º de junho. Com certeza a pinta no lado esquerdo inferior da boca de Monroe teria muitas histórias para contar. Absolutamente correto.

Casou-se pela primeira vez aos 16 anos. Quando o então marido foi servir na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ela aproveitou para tentar a sorte no cinema. E parece que os dados caíram no lugar certo. Começou com aparições tímidas. Mas Hollywood necessitava de mais. Criou uma lenda viva. Com 25 anos, já era a mulher mais bonita do planeta. Linda, loira, sexy, olhos azuis, 1.68 metro... Entretanto, sua vida estava às lágrimas. Com a mãe doente, depois de sair do orfanato, aos 15 anos já tinha morado com 11 famílias diferentes. O matrimônio na adolescência foi, com certeza, a fórmula cavada por ela para se livrar daquilo tudo e possuir uma casa própria, onde poderia, enfim, viver. Nas artes, momentos ímpares: a cena dela com sua saia esvoaçando é eterna, assim como sua declaração sobre o que usava para dormir – “Uma gota de Channel número cinco”. A garota Norma Jean Dougherty (nome de batismo de Marilyn) sofreu. A mulher Marilyn Monroe triunfou. Pisou nos problemas dela e seguiu enquanto teve fôlego. A fama lhe fez mal? Ela era tão inocente assim? Para estas duas perguntas as respostas talvez sejam as mesmas: não. Apenas Monroe quis se livrar de tudo que a incomodava. E se matou.

Feito em preto-e-branco, então, “Quanto Mais Quente Melhor” não é, claro, só o maior ícone sensual do século 20. Jack e Tony (nas peles de, respectivamente, Jerry/Daphne e Joe/Josephine) dão que falar. Ainda mais quando se disfarçavam de garotas serelepes. As cenas são hilárias. Seqüências marcantes como na festa do pijama no beliche de Daphne durante a viagem de trem, por exemplo, ou um pouco antes desta, quando Sugar vai à cama de Daphne para lhe agradecer sobre um favor. Foram seis indicações ao Oscar: ator (Jack Lemmon), diretor (Wilder), direção de arte, fotografia, roteiro adaptado e figurino. Ganhou por este último. A produção de 46 anos atrás é impecável. Em meio as apresentações da banda das moças, os mafiosos que mataram os rivais procuram a dupla de músicos. Tropeçando em tiros e balas de espingardas e outras armas não menos potentes, Jerry e Joe seguem arrumando confusões. Até que chega o dia do aniversário de Spats Colombo, líder do bando do mal. Aí... Bom, há de se ver o longa. Em meados de agosto de 2001, o Instituto de Filmes Americanos escolheu, através de 1.500 especialistas, “Quanto Mais Quente Melhor” a melhor comédia de todos os tempos. Foi de bandeja a taça.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 02/07/2009
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