O Que São os Sonhos
INTRODUÇÃO
É nossa intenção realizar pelo menos mais um artigo sobre o tema Sonhos. Este será dedicado ao entendimento sobre o que é o Sonho, origem, níveis, sua função e estrutura.
Importante destacar que o entendimento sobre os fenômenos varia conforme a ótica e o conhecimento específico do observador,
Assim, dependendo se na visão fisiológica, ou neurológica, ou psicológica, ou, ainda sob o saber iniciático das idades, os entendimentos, apesar de não serem antagônicos se mostram bem diferentes.
Além disso, com o passar dos tempos, mesmo dentro de mesma visão, o entendimento sofre adendos e alterações.
Assim, às perguntas sobe sonho têm respostas variáveis conforme o conhecimento e a abordagem de quem as respondem.
Para compreensão melhor do objeto deste artigo é importante a apropriação dos conceitos da psicologia junguiana objeto dos artigos anteriores: “Fundamentos da Psicologia Junguiana”; “Fundamentos da Psicologia Junguiana – Estruturas Especializadas”; e “Fundamentos da Psicologia Junguiana – Inconsciente, Si-Mesmo e Individuação”.
O QUE É O SONHO
Os egípcios, os babilônios, os gregos, os romanos, todos acreditavam que os sonhos eram forma pela qual a alma recebia orientação do mundo espiritual.
Para os neurocientistas, é apenas espécie de tráfego neuroquímico de informações cerebrais sem qualquer sentido formal, ocorrido durante a fase REM (Rapid Eye Movement) do sono.
A fase REM ou MOR (Movimentyo Ocular Rápido), é uma das fases mais importantes do sono. É caracterizada pela presença de alta atividade cerebral, que pode ser visível no desempenho de movimentos oculares rápidos e constantes.
Para os fisiologistas o sonho seria momento fisiológico único: o cérebro fecha suas entradas sensoriais e suas saídas motoras, mas apresenta franca atividade mental.
Para os que estudam as projeções astrais, em que o corpo repousa enquanto a alma vai buscar novos aprendizados – ou satisfazer seus vícios, os sonhos seriam registros de atividade durante essa viagem ao plano astral, que ocorre todos os dias durante o sono.
Para a psicanálise freudiana, os sonhos são expressões de desejos inconscientes ou reprimidos. Sonhar é uma linguagem simbólica, pela qual se manifesta nosso Inconsciente – espécie de porão da mente onde habitam fantasmas psíquicos, como conflitos não resolvidos e desejos reprimidos, que acabam governando todo o nosso comportamento.
Para Freud, os sonhos seriam expressão dos desejos proibidos das energias instintivas existentes no homem. Uma vez que tais desejos são proibidos e que não podem aparecer diretamente, disfarçam-se nos sonhos.
O discípulo de Freud e fundador da psicologia analítica, Carl Gustav Jung desenvolveu a teoria dos arquétipos, símbolos universais que permeiam os sonhos de todos os seres humanos. Na psicologia junguiana, o sonho é considerado processo psíquico natural regulador, análogo aos mecanismos compensatórios do funcionamento corporal.
Dizemos que os Sonhos são expressão dos pensamentos de nosso Inconsciente. Expressões processadas diferentemente de nossos pensamentos quando em vigília, ou conscientes.
Quando conscientes, pensamos através das palavras com a utilização de análise lógica, de conceitos e de ideias . Ao passo que o Inconsciente pensa através de símbolos, de imagens e também através de histórias que se assemelham muito a parábolas.
O mundo psíquico é invisível, mas é representado nas imagens de nossos Sonhos.
DE ONDE VÊM OS SONHOS
Para muitas tradições orientais, os sonhos têm origem nas atividades da alma, quando desgarrada do corpo durante o sono, com destino a outros planos ocultos e mais sutis que os conhecidos pelos nossos sentidos e pela amplitude atual dos sensores desenvolvidos pela tecnologia.
O filósofo grego Platão foi um dos primeiros a entender os Sonhos como não tendo origem em fonte externa, mas em nosso interior, no “self”, ou Si-Mesmo.
Dois mil anos depois, Sigmund Freud afirmou que os Sonhos não somente vêm do “self”, mas, também, são sobre o “self” sexualmente reprimido. Para Freud, tudo que acontece em nossos sonhos está conectado com nossos desejos sexuais ocultos.
Na primeira década do século XX, Jung ratificou o entendimento que os sonhos vêm do “self”, e são sobre o “self”. Acrescentou que a compreensão de sonhos é ferramenta de autoconhecimento e, portanto, desenvolve o “self”.
Neste século XXI, a renomada analista de sonhos, Lauri Quinn Loewenberg, em seu livro “Por que sonhei com isso?” afirma que tudo que há nos sonhos está ligado a alguma parte do “self” e são de fato sobre o “self”, ou alguma coisa, ou pessoa que o afeta diretamente. Acrescenta, ainda, que em todos os sonhos há muitos arquétipos comuns que guardam significados coletivos, ou compartilhados por quase todos nós.
Os Sonhos nascem de parte mais íntima dos homens, a qual é diferente do Consciente. Esta parte assemelha-se a um mundo interior, extensa parte dos homens que é psíquica e que não se identifica com nossa consciência e por isso é chamada de Inconsciente.
Seja qual for a corrente de pensamento, enquanto dormimos a mente mais profunda assume o controle. Aquele pensamento desperto que usava palavras e sobre a qual a mente consciente exercia controle, agora está sendo controlado pelo Inconsciente não mais usa apenas palavras, mas também símbolos, imagens, experiências e emoções expressas por meio de linguagem simbólica, por metáforas.
NÍVEIS DE SONHOS
Somente com a intenção de esquematizar didaticamente os diferentes níveis de Sonhos conforme sua procedência, com o objetivo de lembrar que os sonhos provêm de diferentes camadas da Psique, e levarmos esses níveis em conta em suas interpretações, John A. Sand Ford em “Os Sonhos e a Cura da Alma” sugere três níveis: da Vida Diária; do Consciente Pessoal; do Inconsciente Coletivo.
Vida Diária, ou Cotidiano são Sonhos que refletem, como se comentassem acontecimentos de nosso cotidiano. Muito comum quando estamos envolvidos em alguma atividade que realizamos diariamente, ou quando deixamos de fazer alguma coisa dentro de nossos padrões.
Consciente Pessoal nesse nível se enquadram Sonhos que não facilitam a compreensão de seu significado, quando levamos em conta nosso cotidiano. Para compreendê-los somos obrigados a refletir sobre a história de nossa vida: recordar coisas de nossa infância, relacionamento com os pais, história de vida antes do casamento. É como estivéssemos em busca de curar ferida antiga, ou aliviar a alma, ou integrar o passado.
Inconsciente Coletivo nesse nível se enquadram os Sonhos carregados de energia psíquica de modo especial e associada a imagens arquetípicas. Transcendem nossa experiência individual e são reconhecíveis por serem constituídos de material diferente de nosso cotidiano: crianças especiais e precoces; figuras superiores ao humano; seres mágicos; serpentes... Ocorrem em momentos críticos de nossas vidas e a pessoas que estejam envolvidas no seu próprio Processo de Individuação.
FUNÇÃO DOS SONHOS
O sonho provavelmente apresenta diversas funções. Assim como o sono, o Sonho é extremamente necessário à saúde. Experimentos clínicos demonstraram que a privação do Sonho resulta em irritabilidade, dificuldade de concentração e até mesmo alucinações beirando a surtos psicóticos.
Acredita-se que o Sonho tenha função reguladora de equilíbrio psicológico. É através dele que fazemos a digestão dos acontecimentos do dia.
Imagina-se que ele tenha funções de ajustes importantes no aprendizado. Promove a manutenção da memória: esquecer aquilo que não importa e consolidar memórias relevantes.
Entretanto, o aspecto mais importante dos Sonhos é que contém um propósito. Por trás dos mesmos existe ação intencional inteligente. É como se fossem elaborados por centro em nosso interior e objetivassem compreender o que está fora de nossa consciência.
Dentro dos fundamentos da psicologia junguiana, os Sonhos tem como função mais importante estarem a serviço do Processo de Individuação. Cada Sonho se constitui de experiência pessoal na qual nos é revelada parcela de conhecimento, que nos torna mais conscientes e desenvolvidos.
ESTRUTURA DOS SONHOS
O Sonho é muito bem estruturado. Possui muitas vezes, semelhante ao drama, abertura, desenvolvimento e conclusão.
A cena de Abertura do Sonho expõe o problema, ou a situação a respeito a ser tratado. É preparação para tudo que se segue.
Depois vem o Desenvolvimento do Sonho em que a cena de Abertura se transforma em história. Geralmente à medida que o sonho se desenvolve, algum, dilema é apresentado.
Na Conclusão do Sonho está, às vezes, a solução ou pista para a solução. É o desatar o nó, nela está a sugestão que o Sonho nos oferece, de como proceder para resolver a dificuldade.
Os Sonhos trazem em sua estrutura um lugar para cada evento do Sonho. A causalidade é representada nos sonhos por sequência de eventos. Aqui cabe lembrar que na psicologia a causalidade significa relação interior. Situação psicológica particular produz situação subsequente, que se desenvolve a partir da primeira.
CONCLUSÃO
Dentro da ótica junguiana poderíamos de forma bem sintética estabelecer como teoria sobre os Sonhos:
Os sonhos originam-se em outra dimensão de nossa personalidade, chamada; Inconsciente e expressam-se por meio de linguagem simbólica;
Para interpretá-los e entende-los, temos de aprender a ler essa linguagem;
Por trás dos sonhos, há um objetivo que é o alargamento de nossa personalidade e o aumento da meta de nossa vida; e
Quando começamos a entender o significado de nossos Sonhos, entramos em contato com propósitos mais amplos que atuam em nosso interesse.
Entender os significados dos SONHOS é confrontar-se com um tipo de inteligência existente dentro de nós que conhece algo que desconhecemos e que possui objetivos próprios.
Os Sonhos retratam nossas vidas como acontecimentos importantes e profundos, como se nossas almas fossem um grande palco no qual os objetivos de nossas vidas ou obtêm sucesso ou malogram.
Os Sonhos retratam nossas vidas como se cada um de nós constituísse experimento único e como se, de nosso próprio interior, estivéssemos nos observando constantemente, para vermos se o experimento que se está realizando obtém sucesso ou malogro.
Viver sob a compreensão dos Sonhos é viver como alguém que esteja sob constante orientação.
Num próximo artigo continuaremos a abordar o tema Sonhos, mas nessa oportunidade voltaremos atenção para o entendimento sobre sua interpretação.
FONTES:
Livros:
Por que sonhei com isso? – Lauri Quinn Loewenberg;
Os sonhos e a cura da alma - John A. Sandford; e
Jung e a interpretação dos sonhos - James A. Hall.
Sites:
pt.sainte-anastasie.org
sonharcom.net
suacorrida.com.br
super.abril.com.br
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