A construção do conhecimento (6)

Um país planeja e começa suas invasões, conquista outros países, com ataques ao estomago, conjugado com a palavra. A língua é um membro do corpo humano que funciona no processo da fala e das funções organolépticas, no processo do discurso e na apreciação de sabores. Povos invasores utilizam-se do sistema gástrico e gastronômico. Empurrando a palavra e o sabor, e forçando uma deglutição. Chegam com novos produtos substituindo os já existentes, convencendo por suas propriedades nutricionais, aromáticas, gustativas, ou de status. Produtos desenvolvidos e embalados por bases em estudos dos desejos e das vontades.

Depois passam a fazer incursões, munidos de drágeas e comprimidos, novamente atacando o aparelho digestório, sem uma chance de defesa, já que possuem marcas e patentes respaldadas por testes e comprovação científica. Testes foram feitos em cobaias e animais, inclusive nos mais próximos do homem, aquele que vem sendo considerado como um membro da família.

Por ultimo vem um ataque bélico, um ataque físico com objetivos físicos e geopolíticos, a ocupação de um espaço geográfico ou a usurpação de um bem de valor econômico, localizado em um determinado espaço geográfico. Determinado local geográfico, também pode ser um ponto estratégico para novas conquistas e novas dominações. A geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra, disse Yves Lacoste. Ataques e domínios simbólicos.

A Europa lançou-se ao mar com alguns objetivos. Provar que a terra era redonda ou encontrar um caminho marítimo para chegar às índias, já que o caminho terrestre estava ocupado e dominado. Cada qual criou uma desculpa cientifica para se lançar ao mar. Darwin formou sua teoria da evolução das espécies, pesquisou uma diversidade de animais em diversos continentes. Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para as índias. Colombo e Cabral descobriram novas terras, que já estavam ocupadas. Os ingleses acharam que eram deus e que todos os mares eram seus (Chico Buarque).

Europeus precisavam chegar às índias para obter as especiarias, elementos da ciência culinária que poderiam diferenciar suas culturas umas das outras, dentro do pequeno continente. A Europa é formada por pequenos países, formados, dominados ou conquistados, queijos e vinhos definem suas fronteiras. Produtos pluralizados e diversificados a partir de duas simples matérias primas como a uva e o leite. Dois produtos primários que oferecem uma infinidade de resultados.

Conhecimentos de ambientes climáticos vão formar novos vinhos e novos queijos. Cascas e embalagens prolongam suas durabilidades, modificam, intensificam e apuram seus sabores. Seus conhecimentos e conquistas vão fazer diferenças e diversificações. Cada conhecimento está inscrito em determinado alimento, e explicito pelo seu sabor. Aquele que se alimenta e não produz um conhecimento ou não assimila um saber exerce uma práxis escatológica, modificando o mundo apenas pela sua presença.

Os portugueses ao desembarcar nas novas terras descobertas ofereceram aos índios alimentos utilizados naquela época, na Europa e em Portugal. Os estoques de víveres da frota continham alimentos vivos e conservados pelo uso do sal ou do açúcar. Os índios conheciam o uso do sal, conheciam a doçura das frutas, mas não o utilizavam nem o sal e nem o açúcar para conservar alimentos, não havia a necessidade de estocagem, um povo “incivilizado”, sem conhecimento científico.

Portugueses e índios não conheciam nem utilizavam o mesmo idioma, não se reconheciam ao falar, não conseguiram se comunicar. Pouco poderiam se comunicar por gestos, já que não conheciam hábitos e costumes do outro. A única certeza de um pelo outro é que consumiam alimentos. O gesto de comer é universal. Cada qual ofereceu alimentos de usos e costumes, como uma linguagem de intermediação. O denominado instinto, ou insigth, orientou para este gesto de trocas demonstrativas de interesses e desejos, mostre-me o que comes e eu saberei quem és. Nós somos o que comemos, ou comemos o que somos.

Jornal de HOJE

Entre Natal e Parnamirim/RN ─ 20/10/2013 Roberto Cardoso (Maracajá)

Reiki Master & Karuna Reiki Master

Roberto Cardoso (Maracajá)
Enviado por Roberto Cardoso (Maracajá) em 15/09/2015
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