Os defensores da ''teoria queer'' e a doutrina de Mota e Terreno.

Primeiramente, esclarecer-se-á que o gênero não é uma construção social como alguns militantes, ou simpatizantes da teoria queer defendem. A formação do gênero, envolve uma série de componentes, sejam eles biológicos (genéticos) e psicológicos (fisiológico, neuroquímico), como citado no review "DSDs: genetics, underlying pathologies and psychosexual differentiation" —http://www.nature.com/nrendo/journal/v10/n10/pdf/nrendo.2014.130.pdf —, publicado na revista Nature.

Para dar um exemplo passageiro, na psiquiatria são identificadas diferenças entre homens e mulheres quanto à incidência de transtornos psiquiátricos diversos, e os próprios psiquiatras sabem que vários desses têm uma substancial base genética. O mal de Parkinson e o autismo são mais comuns em homens, enquanto depressão e mal de Alzheimer são mais comuns em mulheres. De forma alguma está estabelecido que esses problemas psiquiátricos são 100% resultado de influências ambientais/sociais. Pelo contrário, cada vez mais há indicativos de que genes participam, e portanto influências sociais têm pouco ou nenhum poder sobre essas diferenças.[1]

Agora a citar John Money. Cujas teorias deterministas culturais sobre gênero foram postas em descrédito por ele mesmo. Ele orientou um casal a criar como menina um bebê do sexo masculino que havia perdido o pênis numa circuncisão desastrosa. O “menina” (David Reimer) logo cedo começou a manifestar disforia, não-conformidade à tentativa de “construção social” do gênero dele, e, por complicações posteriores de depressão e relacionamento falido, suicidou-se. Pode-se alegar que o construcionismo social de John Money tem parte da culpa. [2] O caso David Reimer não é para provar que não existem pessoas trans: mostra que é um erro ficar alegando que “gênero é construção social”. Reimer perdeu o pênis numa fase posterior ao desenvolvimento de circuitos cerebrais relacionados à identidade de gênero, circuitos esses não maleáveis à manipulação social e doutrinação. Por isso mesmo sofreu disforia, como acontece com outras pessoas que nascem com genital masculino mas têm em seus cérebros os circuitos associados à identidade de gênero feminina, por exemplo.

Doutrina de Mota e Terreno.

Castelos de mota eram um tipo de construção medieval em que havia uma torre de pedra construída sobre uma colina frequentemente artificial (a mota) cercada por um terreno contendo construções (tipicamente um castelo) delimitado por um muro ou uma vala. A parte desejável e útil é o terreno, o espaço imediato da mota, frio e úmido, é um mal necessário para manter a segurança do terreno. Na estratégia desonesta em questão, o terreno é o conjunto de proposições desejáveis pelos seus defensores mas fracamente defensáveis. A mota representa proposições facilmente defensáveis mas indesejáveis para esses proponentes. Quem defende uma doutrina filosófica estilo mota-e-terreno quer explorar o terreno livremente, mas quando é pressionado por críticos vai bater em retirada para a mota.

Um bom exemplo de mota-e-terreno é quando defensores da ''teoria queer'' - ideia dificilmente defensável de que o gênero é meramente um constructo social- são submetidos a intensas críticas. Estes, começam a adotar diferentes definições do que se entende por gênero, tentando esquivar-se das críticas até que a proposição se torne trivialmente aceitável, é ai que encontra-se a Mota, Quando o escrutínio crítico se afrouxa (os 'inimigos' tentando atacar o 'terreno' se retiram), o novo sentido de 'gênero' desaparece e os defensores da doutrina tornam a adotar a definição inicial. Isso quando não ocorre dos mesmos apelarem para aqueles conhecidos jargões usados frequentemente pelos ''Guerreiros da justiça social'', dentre os quais está ''biologizar'', quando este usado, gosto de citar Mario Bunge:

Fora isso, cometem o contrassenso de contrastar “biológico” com “psicológico” e “comportamental”. Existe uma área inteira chamada genética do comportamento, por que raios alguém diria que “biológico” não está contido em “comportamental”?

Referências

Shackel, N. 2005 The Vacuity of Postmodernist Methodology. Metaphilosophy 36, 295–320. (doi:10.1111/j.1467-9973.2005.00370.x)

[1] Ngun, T. C., Ghahramani, N., Sanchez, F. J., Bocklandt, S., & Vilain, E. (2011). The genetics of sex differences in brain and behavior. Frontiers in Neuroendocrinology, 32(2), 227–246.http://doi.org/10.1016/j.yfrne.2010.10.001

[2] David Reimer. (2015, May 8). In Wikipedia, the free encyclopedia. Retrieved from http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=David_Reimer&oldid=661432873[3]Bunge, Mario. Dicionário filosófico. publicado a 2001. [Pg 27] http://pt.scribd.com/doc/171413549/Diccionario-de-Filosofia-Mario-Bunge#scribd