A tecnologia como fator alienante: um novo homem, a velha cisma?
Quantos avanços, quantas dúvidas?
Albert Einstein tinha a língua afiada. Sua primeira esposa Mileva Marić registra esse fato em uma carta.
Ainda assim, não podemos afirmar que esta frase “eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, e o mundo terá uma geração de idiotas”, tenha sido dita por ele, considerada a contundência. Contudo, a afirmação ganha novos adeptos mundo afora.
Quando, para nós estudantes, nos colégios técnicos a régua de cálculos foi substituída pela calculadora científica, como suporte às operações trigonométricas, os ganhos foram imensos. A velocidade das soluções foi substancial.
O mesmo aconteceu com os cálculos financeiros, quando as novas máquinas permitiram que as tabelas financeiras não fossem mais necessárias.
Nesse momento, resurgia a preocupação com a alienação. Não com a mesma intensidade com que se trata o assunto hoje.
Pensemos, aqui, alienação como “direção da vontade das massas, criando necessidades de consumo artificiais, desviando o interesse das pessoas para atividades passivas e não participativas”.
Em dado momento, profissionais sem as máquinas não eram capazes de realizar os cálculos, pois não tinham habilidade e domínio para dedução das fórmulas, e sequer lembravam como estas eram formadas. O que dizer, então, de seu tratamento?
Por outro lado, o tempo para novos aprendizados se mostrava disponível.
Seria uma regra: conheço mais, domino menos? Um direcionamento para a generalização, rompendo as correntes da especialização?
Nas empresas ganhavam força e transparência as planilhas eletrônicas para trabalhos de planejamento. Antes destas, por exemplo, equipes de cinco pessoas levavam até dois meses para criar alguns cenários.
Cálculos realizados em folha de treze colunas demandavam somas cruzadas para certificação dos valores. Isso consumia tempo para confecção, e as análises acabavam superficiais.
Com o aparecimento desse novo recurso, o ganho foi assustador. Em uma semana já era possível realizar o mesmo trabalho com uma ou duas pessoas. E simular novos cenários, praticamente, se tornou ato imediato!
A possibilidade de criação de índices e formas cruzadas de análise também ganhou enorme impulso.
Onde estariam as perdas nesse processo tão interessante?
No imediatismo que levou ao distanciamento do principal objetivo do planejamento. A moda era criar planilhas, aprender recursos para criação de formas e fórmulas, levando gestores, seus assessores e analistas a um mundo novo e empolgante: a febre da microinformática.
A empolgação da criação induzia à preparação de trabalhos que não tinham nenhum objetivo concreto ou finalidade específica, apenas carregava a habilidade de aprender e usar os novos recursos que a tecnologia fornecia.
Um amigo, nessa época, dizia, fazendo um paralelo com a situação: beba para se alegrar, não para cair!
Vemos, hoje, que os todos os aparelhos que permitem conexão com a internet- recurso fabuloso- tem poder de integração, mas também espalha o vírus da alienação.
Lévi-Strauss, 1908-2009, antropólogo, professor e filosofo, não tinha uma visão muito otimista do mundo, pois o via muito saturado com imagens, palavras, indivíduos e tecnologia.
A antropóloga Françoise Héritier, segue a mesma linha de defesa, e considera que a comunicação imediata e sobre o nada se tornou ela mesma um prazer. Assim, o fato de dividirmos tudo, com todos, o tempo todo, é no entender de parte da sociedade, o motivo de grande prazer.
Inegavelmente, isso consome o tempo que poderia ser dedicado ao pensamento, reflexão e muitas outras atividades.
Novidade? Não!
Em 1844, Karl Max apresentou em um livro uma teoria sobre alienação, no qual tratava o distanciamento entre o homem e a sociedade.
Em 1964, Herbert Marcuse, também em livro, considera a questão e a trata como “mecânica do conformismo”.
Sabe-se que a industrialização, em seu nascedouro, já havia chamado a atenção dos sábios, que advertiam sobre a alienação que acompanha a vida moderna.
Estamos nos alienando cada vez mais ou o novo homem continua com a velha cisma?