As ciências ao colonizar o mundo da vida e unida ao estado, tem solapado a subjetividade, submetendo os indivíduos ao processo de administração racional, onde a hierarquia do estado vem utilizando-se da técnica, inviabilizando qualquer transformação da sociedade que não seja pelo estado. Os adeptos das filosofias neopositivistas, da qual são herdeiros os filósofos analíticos, ao negar a história, e a valorizar apenas o que pode ser comprovado pelo método das ciências experimentais, acabam por contribuir para a tendência a hegemonia da razão instrumental em todos os âmbitos da vida e por destruir a filosofia que pretendia refletir sobre os destinos do homem no mundo. De outro lado, a filosofia continental, que tentou fazer um contraponto aos ataques à filosofia de cunho metafísico, entra em crise pelas criticas demolidoras de certas correntes marxistas, que denuncia todas as filosofias como ideologias burguesas.

A destruição da filosofia, entretanto dá-se, sobretudo com os ataques intestinos levadas a cabo por Nietzsche e Freud. A estratégia de Nietsche e de Freud é psicológica: apontar as raízes doentias da civilização ocidental e da própria pretensão da razão. O ataque psicológico de Nietzsche e Freud, as criticas neopositivista e marxista acabam por demolir o espelho construído há milênios. Heidegger escreve a história como esquecimento do Ser; e o Ser só se revelaria na linguagem, de preferência na língua grega ou alemã. O que sobra é fragmentos. A filosofia se institucionaliza como conhecimento quando já é um ser moribundo e hoje a tarefa é enterrar o moribundo que ainda assim insiste em viver. É neste contexto que a filosofia se institucionaliza e o professor de filosofia surge num momento de crise da filosofia. Talvez o êxito de Heidegger seja a promessa de salvar a filofia dos ataques do marxismo, do positivismo, de Nietzsche e seus epígonos, mas também se travestiu em promessas, pois sua filosofia apesar de ser um diagnostico fundamental, encerra-se num niilismo. 

Enquanto isso caminhamos rumo a um processo de racionalização da vida que parece não ter fim. Nossa dimensão humana, aquele recôndito que ainda parece nos pertencer é cada vez mais arrancado e assim caminha a humanidade a passos largos em busca de sua auto-superação, mesmo que seja ao custo do espírito, da mente, do que nos anima; seja ao custo da individualidade, da dignidade, seja ao custo do planeta, seja ao custo da vida. Ah, quão felizes somos os que buscamos o conhecimento e o conseguimos calar por alguns instantes, dizia Nietzsche em sua genealogia da moral. Parece que vivemos numa época de inflexão do conhecimento e isto possibilita revê-lo e assim buscar na tradição aquilo que é pertinente à compreensão dos homens no mundo. O fato é que juntar os fragmentos, os cacos do espelho racional que se propôs ser o reflexo do homem no mundo, limpar os escombros e ainda, tentar se livrar das armadilhas bem postas de certa tradição racional é tarefa mais que complexa e arriscada. 

Nesse sentido, Jürgem Habermas, pensa em ser não o coveiro da tradição e nem o profeta do apocalipse, ou o Cristo anunciador de um novo mundo, de uma nova era, enfim, utilizo-me de Nietzsche “ar, ar, essa oficina onde se constrói o ideal me cheira a embuste e a mentira.” Habermas não parece um “embusteiro”, não tem pretensões de tapar as crateras da teoria critica e de seus principais e influentes herdeiros Kant e Marxista, “ad-hoc” ele sabe que toda teoria que tem a pretensão de compreender o todo tem sua distorções, seus buracos, sua zonas negras e obtusas, e não se trata de azeitar o eixo do espelho, mas de reconhecer que o que foi projetado não é de todo descartável, nesse ponto Lakatos tem razão, há ainda pedaços dos fragmentos do espelho da tradição racional que vai dos pré-socráticos, a Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Descartes, Hume, Kant, Marx, Husserl, que merecem ser revistos e que pode nos auxiliar na compreensão da realidade, sobretudo aquilo que diz respeito a Kant e a tradição critica e com ela as ideias de emancipação e de autonomia.
Labareda e CELSO SIQUEIRA DA SILVA
Enviado por Labareda em 16/06/2014
Reeditado em 16/06/2014
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