EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A AUTONOMIA NA APRENDIZAGEM
Prof. Antônia Ustulin
Introdução
A história da EAD vem utilizando recursos como correspondência, rádio e TV a décadas, porém, ela ainda é jovem com relação à utilização das TICs, Ou seja, com a utilização das Tecnologias da Informatização e Comunicação. Esta modalidade de ensino se efetivou no Brasil desde a publicação do Decreto-Lei 2.494 de 1998 que define a Educação a Distância “uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados [...]”.
No Brasil e nos outros países, a EAD é considerada uma alternativa estratégica e eficaz que permite ultrapassar as barreiras geográficas e possibilita o acesso à educação. Esta modalidade de ensino apresenta uma educação que possui objetivo e preocupações semelhantes à educação presencial. A Educação a Distância (EAD) tem como propósito, estimular o senso crítico, promover o conhecimento, formar cidadãos, possibilitar o acesso à cultura, enfim, objetivos que se assemelham e percorrem as mesmas ideologias da educação presencial.
Vale lembrar que o curso proposto para os Técnicos dos LIEDs tem uma estrutura baseada na colaboração, uma valiosa e essencial vantagem da educação a distância. O ambiente virtual de aprendizagem será o E-ProInfo, ferramentas como biblioteca, diário de bordo, fórum, patê-papo são as principais ferramentas de interação e colaboração onde cursistas e professor farão as articulações sobre os conteúdos e atividades do curso, sem falar dos encontros presenciais que são fundamentalmente importes neste processo de aprendizagem que tem teor específico para quem está exercendo função de técnico de laboratório de informática das escolas públicas de Mato Grosso.
Diversas polêmicas já foram levantadas quando o assunto é educação a distância. Uma dessas questões é o próprio fator distância. Mas temos que convir que distância é uma expressão um tanto relativa. Analisando o contraponto entre educação presencial e educação a distância, a única diferença está no ambiente em que se desenvolve o processo de aprendizagem e todos os recursos utilizados.
Para melhor esclarecer, pode-se limitar esta reflexão ao caso do aprendiz. Nas circunstâncias que se pode analisar, a distância vai modificar o ambiente de estudo e o modelo de interação. Mas, como isso vai mudar? No caso do aluno que estuda a distância, o ambiente se define a partir da sua preferência e da disponibilidade, e, claro, da metodologia e como já foi dito acima, dos recursos utilizados no curso.
Neste sentido, são pertinentes os seguintes questionamentos:
Disponibilidade de tempo e local:
Onde e quando estudar?
Em casa ou na escola?
Qual o melhor horário para estudar hoje?
Metodologia e recursos:
O que é necessário?
Precisa-se de conexão com a internet ou apenas um computador?
A priori a ideia, quando falamos de distância, é a de uma não presencialidade. Porém, quantas vezes já estivemos longe enquanto o professor ministrava uma aula presencial? Entende agora o porquê de se considerar a expressão a distância um tanto relativa? Sabemos aproveitar uma aula presencial?
Mas, afinal, o que é presença? Ou melhor, que presença ideal seria essa?
O que podem comprometer uma aula pode ser observado por diversos fatores: o cansaço, a distração e o método do professor são alguns deles. Assim, pode-se concluir que a distância serve apenas para identificar a separação geográfico-temporal.
A distância define um cenário diferente do que ocorre no ensino presencial. Como exemplo disso pode-se considerar os fatores: a ausência física de um professor, o estilo de comunicação e as formas de encontro. Essas são situações que, além de caracterizarem a AED e – de certa maneira, causarem uma espécie de desconforto aos defensores do ensino presencial, na verdade funcionam como estímulo à aprendizagem.
Contudo a metodologia da EAD estimula o aprendiz a lançar mão da sua autonomia para aprender, e aprender por conta própria, sem depender de alguém que lhe diga “agora estude esse conteúdo, depois, resolva essas atividades”.
As características mais importantes no contexto da EAD são a flexibilidade, a portabilidade, a formação permanente e personalizada, o investimento financeiro (que para o estudante é inferior quando comparado ao ensino presencial), o incentivo e a valorização da capacidade de autoaprendizagem, favorecendo a formação de bons hábitos como planejamento, responsabilidade, gerenciamento do tempo, locais de estudos e tantos outros.
Durante algumas dezenas de anos, a educação tradicional foi o principal sistema de educação e com ele incorporamos a ideia de que, sem a presença de um professor não se aprende, sem a rotina da escola não se estuda. Esta questão cultural pode ser transformada à medida que mudamos a nossa visão em relação ao estudo e o nosso comportamento.
As tecnologias da informação e comunicação – TICs, ganharam espaço e são utilizadas como recurso auxiliares para a aprendizagem e para a educação de modo geral, já que a infinidade de possibilidades e recursos que proporcionam causa nas pessoas uma enorme admiração, um frenesi diante das novidade e descoberta e do que ela pode oferecer.
Contudo, de uns tempos para cá, quando a questão tecnologia já não está tão surpreendente, os desafios da educação a distância vem superando dificuldades e ocupando espaço, por isso, passaram a concentrar discursos sobre os aspectos psicossociais da autoaprendizagem e das condições para alcançá-la no ambiente virtual.
A tecnologia embora já esteja bastante vivenciada no cotidiano e não surpreenda tanto quanto antes, o aprendiz ocupa um espaço na realidade ainda transitório da educação a distância ainda transitória. Muitos ainda incorporam as práticas da educação tradicional e não se adaptam à realidade da EAD. Marc Prensky (2001) introduziu os conceitos de Nativos e de imigrantes digitais.
Nativos - refere-se àquelas pessoas que desde pequenas já mantém contato com as novas tecnologias.
Imigrantes digitais - refere-se àquelas que incorporaram ou ainda vivem esse processo no meio digital.
O autor elaborou esses conceitos com base na inserção do computador e principalmente da internet que inspirou novos hábitos de sobrevivência no mundo digital. É possível aplicar os conceitos de Prensky à distância, ou seja, definir aprendizes nativos e imigrantes, os que já desenvolvem habilidades e competências para estudar a distância e os que ainda estão em adaptação, neste sentido é bom refletirmos: quem sou eu?
Não podemos deixar de dizer que na EAD, a realidade do aprendiz exige reflexões para entender as maneiras de se promover e valorizar a capacidade de autoaprendizagem e disciplina, como por exemplo, refletir sobre, como se automotivar, como estabelecer relações entre aquilo que se aprende e aquilo que se vive, como aproveitar melhor o tempo e o espaço em que ocupamos como trabalhar as resistências pessoais, superar preconceitos e tantas outras particularidades.
A Aprendizagem na Educação a Distância
Para Rodrigues (2009), em uma sociedade em que a informação e as tecnologias estão diretamente relacionadas ao estilo de vida, o trabalho e as relações entre as pessoas, a aprendizagem também é afetada.
O novo perfil da sociedade do conhecimento vem influenciando inclusive o modo de percebermos as coisas e a maneira como aprendemos determinados significados. Entender como esses processos ocorrem e como os recursos tecnológicos são utilizados individualmente pode contribuir para identificar os estilos de aprendizagem de cada indivíduo.
O que poderia contribuir para o aproveitamento da aprendizagem em EAD é o reconhecimento dos diferentes estilos que são particulares e a identificação das necessidades específicas das pessoas. O modo de reconhecer a informação delineia o processo pelo qual identificamos os estilos de aprendizagem, reconhecendo aspectos que definem as formas de como se aprende.
Em EAD, o aprendiz está imerso em uma realidade muito diferente daquela do modelo presencial. Essa realidade inclui referenciais do processo de informação e comunicação, das tecnologias, do ambiente virtual e suas nuances. Outro fator são os estímulos visuais e auditivos, que influenciam a aprendizagem. É desse conjunto que se formam as condições para aprendermos em EAD.
Á medida que se reconhece os aspectos que permeiam a forma de aprender, fica mais fácil e mais prático reconhecer os recursos que melhor se adaptam ao próprio perfil, um texto, uma imagem estática ou animada, um som, ou mesmo todo esse conjunto de fatores que influenciam a aprendizagem. Os recursos são diversos e esses fatores funcionarão de acordo com a maneira de cada um perceber, assimilar, interpretar e produzir.
Ainda para Rodrigues (2009), nesse contexto, localizam-se também, fatores como a valorização, a identificação de interesses e afinidades na aprendizagem. Ou seja, a maneira como o aluno, sente-se estimulado, motivado e interessado. Nem sempre estabelecemos essa relação de afinidade em todas as disciplinas, porém somos capazes de definir a melhor maneira de se aprender e aproveitar o conteúdo, bastando relacioná-lo à vida real.
A cada momento nSo deparamos e experimentamos uma nova tecnologia, recebemos informações, percebemos milhões de coisas. Se os estímulos dos moldes presenciais vinham de livros, apostilas e longos discursos do professor, a educação a distância amplia as possibilidades. E isso se relaciona com o fator cultural, com novos hábitos e novos comportamentos que vão se adaptando e se transformando.
Quanto mais o tempo passa, os veículos de comunicação informam sobre o crescente uso da rede de comunicação e informação através de computadores, Em 2009, o Brasil ocupou o primeiro lugar no ranking dos países em que as pessoas passam mais tempo navegando na internet, na frente de países como Reino Unido, Japão e França. Resta verificar se a internet é bem utilizada e se todo esse tempo de navegação não passa de entretenimento, perca preciosa do tempo, e até risco à saúde. Mesmo que a internet tenha se incorporado às necessidades diárias, é preciso desenvolver competências para saber utilizá-las.
A educação sofre alterações e as pessoas tentam de alguma forma se adaptar ao processo a partir dos elementos tecnológicos no âmbito educativo. Existem ainda outros aspectos que fazem parte desse contexto, fatores que integram as condições de se aprender pela modalidade EAD e que ajudam a compreender como tudo isso pode nos afetar, seja contribuindo para identificar fraquezas que precisam ser transformadas ou mesmo potencializar habilidades e competências, e em EAD a principal competência o desenvolvimento da autonomia, veja a seguir como ser um estudante autônomo.
O aprendiz autônomo
Em educação, autonomia é analisada em diversos sentidos e aspectos e “significa a capacidade que o sujeito tem de “tomar para si” sua própria formação, seus objetivos e fins; isto é, tornar-se sujeito e objeto de formação para si mesmo” (PINEAU apud PRETI, 2000, p. 6).
Essa capacidade de o sujeito “tomar para si” amplia o seu poder como estudante e o conduz a uma inquietação de saber, à necessidade de inter-relacionar conceitos, de experimentar, de buscar a compreensão e de compartilhar o saber.
Você já deve ter ouvido sobre autonomia relacionada a assuntos da política, da filosofia, da pedagogia e até mesmo na psicologia e na economia. A autonomia é concebida pelo pensamento filosófico, que fornece a base de sua aplicação na educação.
Na modernidade, Immanuel Kant (1724-1804) foi o pensador que mais discutiu autonomia. Baseado nas idéias de Jean-Jacques Rosseau (1712-1778) sobre educação e o homem, Kant tratou da questão da autonomia como possibilidade de o homem se libertar das verdades e leis absolutas. Aplicada à educação, essa temática introduziu a idéia do aluno como responsável pelo planejamento, pela autodireção e pelo controle da sua própria aprendizagem.
O mesmo princípio foi seguido por Jean Piaget (1896 – 1980), que defendeu dois aspectos da autonomia na educação.
1º - É relacionado à autonomia moral baseada na importância de interpretar aspectos e possibilidades que indiquem o caminho mais adequado, inclusive na aprendizagem.
2º - O segundo aspecto se relaciona com a autonomia intelectual. Como capacidade para desenvolver opiniões próprias.
A autonomia finda com o paradigma das respostas prontas, dos métodos tradicionais e da postura passiva dos alunos. Aprende-se produzindo. Juan Inacio Pozo afirma que “vivemos em uma sociedade da aprendizagem, na qual aprender constitui uma exigência social crescente que conduz a um paradoxo: cada vez se aprende mais e cada vez se fracassa mais na tentativa de aprender” (POZO, 2009).
Por outro lado, Paulo Freire (1997) aborda o conceito de autonomia como uma capacidade do aprendiz para transformar o que lhe foi ensinado, construir e reconstruir. Sendo assim, tornar-se consciente do sentido da autonomia é o primeiro passo para construí-la, se conscientizar da responsabilidade de autoadministrar seu próprio aprendizado.
Na aprendizagem, a autonomia começa em um processo de construção individual, associado às dimensões cognitivas do indivíduo, onde o efeito inclui o espaço virtual, considerando que a partir das relações e das interações é que vão se produzindo os efeitos para o social, para o grupo do qual está inserido.
O processo de interação no grupo torna-se muito importante enquanto estratégia de aprendizagem porque aprendemos com o outro, aprendemos com as interações no grupo. O aprendiz autônomo participa, colabora e interage com o grupo, permite construir novos saberes, reconhece que precisa desenvolver e aprimorar habilidades e tomar decisões. Por isso, conversas interativas estimulam, motivam e facilitam o desenvolvimento da autonomia.
O aprendiz autônomo busca a sintonia com o grupo e com os recursos midiáticos, estabelece a ligação e reconhece que para aprender precisa exercitar, criar hábitos e adotar comportamentos que ajudem a alcançar os seus objetivos e metas. O aprendiz autônomo demonstra um forte interesse em ser aprendiz e por si só é capaz de motivar-se para alcançar os seus propósitos.
É importante observar que o processo de motivação interna nasce do desejo de ser capaz, um desejo de superar-se, de sentir prazer em descobrir o novo. Nesse processo estão presentes sentimentos como apreço, aceitação e confiança em si e por aquele que compartilha o mesmo espaço de interação.
Os níveis de autonomia se diferem de uma pessoa para outra. Há um vasto conjunto de comportamentos possíveis no contexto da aprendizagem e do uso de estratégias para desenvolver a autonomia. O aprendiz autônomo é capaz de criar as suas próprias estratégias e avaliar seus comportamentos constantemente.
Para Preti,
A construção da sua autonomia, enquanto estudante, deve se tornar um projeto seu pessoal de vida e de trabalho. Tem que aprender por você mesmo! [...] Temos que romper com a submissão, a dependência e trilhar seu próprio caminho da aprendizagem. A autonomia não é discurso. É uma prática fundamentada num projeto de vida e de trabalho. (PRETI, 2002, p. 36-37).
Devemos procurar entender o motivo pela qual se estuda. Seja qual for a resposta, tenha consciência de que o conhecimento tem um inestimável valor para a vida.
O desempenho nos estudos deve acontecer com a prática durante os estudos na modalidade a distância, lembrando que cada pessoa deve observar em quais situações o seu desempenho é melhor e quais recursos podem ser utilizados como ferramenta de apoio para a aprendizagem. Lembre-se que a verdadeira aprendizagem faz com que o aprendiz domine todo o conteúdo de modo que o leva a adquirir novas atitudes e habilidades.
A autoavaliação também faz parte desse processo, e questionar diariamente sobre as atividades diárias, a distribuição das tarefas conforme os três períodos do dia entre outros.
Independentemente do resultado de suas reflexões, é bom observar a interação dos princípios de aprendizagem aplicados durante o estudo, para que um novo hábito seja formado e consequentemente a mudança de comportamento aconteça.
De acordo com a avaliação dos hábitos dos estudos é bom lembrar-se de observar aquelas características que representam fraquezas que precisam ser modificadas e observadas também em seus pontos fortes.
Nunca guardar as reflexões mentalmente, sempre registrar tudo no papel ou em um arquivo eletrônico, estabelecendo assim um propósito fazendo um contrato consigo mesmo.
Referências
RODRIGUES, Elisângela Campos, Desenvolvendo autonomia nos estudos a distância. Curitiba, PR: IESD,2009.
PRENSKY, MARC. Digital Natives, Digital Immingrants. Disponível em: <http://www.marcprensk.com/writing/Prensk20Digital%20Natives,%Diital20lmmingrants%20-%Part1.PDF>. Acesso em 02/06/2011.
PRETI, Oreste. Autononia do Aprendiz na Educação a Distância: Significados e dimensões. Disponível em: http://www.nead.ufmt.br/principal. php?area=producao_artigo&tipo_producao=3. Acesso em: 04/06/2011.
USTULIN. Antônia. 12/06/2011.