Vou-me Embora pra Pasárgada
A primeira vez que li a poesia de Manuel bandeira, não compreendi o que ele queria dizer com Pasárgada, a princípio pensei que fosse uma cidade que pertencesse a algum continente, talvez Americano. O tempo passou, e busquei em vários meios entender por quê ele queria ir embora para aquela cidade, após muitas buscas, entendi que Pasárgada se tratava de uma cidade imaginária, criada pelo modernista como fuga da realidade. Me detive em nossa realidade, e unindo o útil ao agradável, percebi que a poética faz todo sentido nos dias do nosso século, viemos numa sociedade em que muitas vezes só seremos felizes se inventarmos um mundo para vivermos, ou talvez mesmo uma Pasárgada como fez Bandeira. Voltei a ler novamente o texto e vi que lá está escrito de coisas simples à inéditas, coisas que o modernista planejava fazer na cidade utópica inventada pelos seus anseios de fuga.
Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90