Tutto è burla nel mondo
Eis alguns trechos extraídos de uma das obras literárias do, senão o maior, um dos maiores filósofos brasileiros - Olavo de Carvalho.
Chamo a atenção, para aquilo que o próprio autor reiteradamente ressalta em seus debates e paletras, de nunca tentarmos intrepretar um pensamento e/ou contexto de uma obra, a partir de informações resumidas e/ou superficiais. É preciso vencer a preguiça e a ânsia de querer opinar sobre algo, sem se aprofundar e esgotar a busca pelo conhecimento sobre as informações existentes.
Eis alguns trechos extraídos de uma das obras literárias do, senão o maior, um dos maiores filósofos brasileiros - Olavo de Carvalho.
Chamo a atenção, para aquilo que o próprio autor reiteradamente ressalta em seus debates e paletras, de nunca tentarmos intrepretar um pensamento e/ou contexto de uma obra, a partir de informações resumidas e/ou superficiais. É preciso vencer a preguiça e a ânsia de querer opinar sobre algo, sem se aprofundar e esgotar a busca pelo conhecimento sobre as informações existentes.
Este artigo foi publicado no Jornal Zero Hora, em 15 de dezembro de 2002
O problema das classes falantes no Brasil é que, excetuando mensagens corriqueiras, não compreendem o que leem, portanto muito menos compreendem o mundo real, seja na escala macroscópica dos acontecimentos mundiais, seja naquela mais próxima e modesta do seu horizonte de experiência direta.
Pois o sentido de um texto, que já vem hierarquizado em categorias - pré-mastigado, por assim dizer -, é infinitamente mais fácil de aprender do que o nexo entre acontecimentos reais, onde a inteligência do observador tem de fazer sozinha todo o serviço, desde as analogias primitivas até as últimas precisões lógicas. O sujeito que é burro diante de um escrito é necessariamente mais burro diante da vida, exceto, é claro, no círculo limitado da sua experiência repetitiva, onde a eficácia das soluções herdadas lhe dá uma ilusão de inteligência. (pág. 249)
Para piorar, quanto mais um indivíduo se mostra incapaz para apreender a mera referência fática do que a gente lhe diz, mas se sente habilitado a diagnosticar, por adivinhação, os sentimentos íntimos e as motivações ocultas do interlocutor - como se a inépcia linguística fosse um atestado de especial acuidade psicológica.
[...] Quando, num teste de compreensão de leitura entre estudantes de 32 países, os brasileiros tiraram o último lugar, afirmei resolutamente que o resultado seria o mesmo se em vez de estudantes os examinados fossem profissionais adultos - incluindo acadêmicos, jornalistas, educadores, parlamentares, ministros da Educação e (por que não?) presidentes da Republica. os estudantes não deveriam ser considerados a priori uma exceção devida a fatores acidentais, mas uma amostra significativa da população em geral.
[...] Parece incrível, mas, num país onde as maiores conquistas da inteligência foram mérito de pés-rapados - um Machado de Assis, um Capistrano de Abreu, um Cruz e Souza, um Farias Brito e tutti quanti -, a cultura continua a ser vista, sobretudo pelos que têm preguiça de adquiri-la, como um bem de consumo reservado as classes superiores, um emblema de chiqueza com que os pedantes humilham os pequininos. Daí a ambiguidade dos sentimentos que evoca: todos a desejam, mas apenas para usá-la, sem que ela os afete por dentro. (Grifos nosso)
[..] Cultura é a capacidade de expressar com requintes de linguagem acadêmica as mesmas opiniões toscas e preferências irracionais que o sujeito já tinha antes de adquiri-la. Nenhum objeto de desejo poderia ser mais ambíguo e pertubador: quanto mais intensamente cobiçado, mais absurdo parece, e mais revoltante a cobrança social que o exige para o desempenho de certos cargos. Daí o inevitável choque de retorno: exausto de lutar em vão pela posse inútil de um simulacro vazio, o cidadão por fim se revolta e proclama, do alto dos telhados, a superioridade da ignorância explícita, agora rotulada "experiência de vida" e enobrecida por um doutorado honoris causa. A farsa, cansada de si mesma, assume-se como o tal e obtém uma vitória de Pirro na afirmação gloriosa da falsidade de tudo. Como o Falstaff de Verdi, que, condenado a ser sempre o bufão da história, encontra alívio na proclamação da universal bufonaria: Tutto è burla nel mondo. (pág. 250 - 251)
Pois o sentido de um texto, que já vem hierarquizado em categorias - pré-mastigado, por assim dizer -, é infinitamente mais fácil de aprender do que o nexo entre acontecimentos reais, onde a inteligência do observador tem de fazer sozinha todo o serviço, desde as analogias primitivas até as últimas precisões lógicas. O sujeito que é burro diante de um escrito é necessariamente mais burro diante da vida, exceto, é claro, no círculo limitado da sua experiência repetitiva, onde a eficácia das soluções herdadas lhe dá uma ilusão de inteligência. (pág. 249)
Para piorar, quanto mais um indivíduo se mostra incapaz para apreender a mera referência fática do que a gente lhe diz, mas se sente habilitado a diagnosticar, por adivinhação, os sentimentos íntimos e as motivações ocultas do interlocutor - como se a inépcia linguística fosse um atestado de especial acuidade psicológica.
[...] Quando, num teste de compreensão de leitura entre estudantes de 32 países, os brasileiros tiraram o último lugar, afirmei resolutamente que o resultado seria o mesmo se em vez de estudantes os examinados fossem profissionais adultos - incluindo acadêmicos, jornalistas, educadores, parlamentares, ministros da Educação e (por que não?) presidentes da Republica. os estudantes não deveriam ser considerados a priori uma exceção devida a fatores acidentais, mas uma amostra significativa da população em geral.
[...] Parece incrível, mas, num país onde as maiores conquistas da inteligência foram mérito de pés-rapados - um Machado de Assis, um Capistrano de Abreu, um Cruz e Souza, um Farias Brito e tutti quanti -, a cultura continua a ser vista, sobretudo pelos que têm preguiça de adquiri-la, como um bem de consumo reservado as classes superiores, um emblema de chiqueza com que os pedantes humilham os pequininos. Daí a ambiguidade dos sentimentos que evoca: todos a desejam, mas apenas para usá-la, sem que ela os afete por dentro. (Grifos nosso)
[..] Cultura é a capacidade de expressar com requintes de linguagem acadêmica as mesmas opiniões toscas e preferências irracionais que o sujeito já tinha antes de adquiri-la. Nenhum objeto de desejo poderia ser mais ambíguo e pertubador: quanto mais intensamente cobiçado, mais absurdo parece, e mais revoltante a cobrança social que o exige para o desempenho de certos cargos. Daí o inevitável choque de retorno: exausto de lutar em vão pela posse inútil de um simulacro vazio, o cidadão por fim se revolta e proclama, do alto dos telhados, a superioridade da ignorância explícita, agora rotulada "experiência de vida" e enobrecida por um doutorado honoris causa. A farsa, cansada de si mesma, assume-se como o tal e obtém uma vitória de Pirro na afirmação gloriosa da falsidade de tudo. Como o Falstaff de Verdi, que, condenado a ser sempre o bufão da história, encontra alívio na proclamação da universal bufonaria: Tutto è burla nel mondo. (pág. 250 - 251)
DICIONÁRIO:
Acuidade - Qualidade de quem é perspicaz, de quem percebe ou entende facilmente alguma coisa.
Bufonaria - Ação ou dito de bobo.
Pedante - Pessoa que exibe conhecimentos os quais não possui.
Simulacro - Cópia defeituosa ou malfeita.
Acuidade - Qualidade de quem é perspicaz, de quem percebe ou entende facilmente alguma coisa.
Bufonaria - Ação ou dito de bobo.
Pedante - Pessoa que exibe conhecimentos os quais não possui.
Simulacro - Cópia defeituosa ou malfeita.
A veracidade das afirmações na parte grifada do texto, se observam facilmente nos dias atuais. Muitos dos que fazem questão de divulgar os títulos acadêmicos, o fazem não no sentido de expor e compartilhar os desafios que foram superados, mas sim, como forma de ostentar uma passagem de - "status social", se colocando erroneamente num patamar acima dos demais mortais, que não possuem semelhantes títulos.
Os títulos deveriam ser ferramentas utilizadas para auxiliar e compartilhar com a sociedade, com intuito de contribuir para o seu desenvovimento. No entanto, o que se verifica de forma cada vez mais crescente, é o uso individo, que busca na maioria das vezes depreciar aqueles que estão na platéia.
Aos que assim o fazem, cabe inúmeros atributos e títulos, até mesmo os conquistados, menos o da INTELIGÊNCIA.
Os títulos deveriam ser ferramentas utilizadas para auxiliar e compartilhar com a sociedade, com intuito de contribuir para o seu desenvovimento. No entanto, o que se verifica de forma cada vez mais crescente, é o uso individo, que busca na maioria das vezes depreciar aqueles que estão na platéia.
Aos que assim o fazem, cabe inúmeros atributos e títulos, até mesmo os conquistados, menos o da INTELIGÊNCIA.
Fonte: CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2014.