Vocações e equívocos
Eis alguns trechos extraídos de uma das obras literárias do, senão o maior, um dos maiores filósofos brasileiros - Olavo de Carvalho.
Chamo a atenção, para aquilo que o próprio autor reiteradamente ressalta em seus debates e paletras, de nunca tentarmos intrepretar um pensamento e/ou contexto de uma obra, a partir de informações resumidas e/ou superficiais. É preciso vencer a preguiça e a ânsia de querer opinar sobre algo, sem se aprofundar e esgotar a busca pelo conhecimento sobre as informações existentes.
Eis alguns trechos extraídos de uma das obras literárias do, senão o maior, um dos maiores filósofos brasileiros - Olavo de Carvalho.
Chamo a atenção, para aquilo que o próprio autor reiteradamente ressalta em seus debates e paletras, de nunca tentarmos intrepretar um pensamento e/ou contexto de uma obra, a partir de informações resumidas e/ou superficiais. É preciso vencer a preguiça e a ânsia de querer opinar sobre algo, sem se aprofundar e esgotar a busca pelo conhecimento sobre as informações existentes.
Este artigo foi publicado no Bravo, em fevereiro de 2000
[...] todo lugar-comum é um grande recorte que enfatiza certos aspectos da realidade para momentaneamente dar a impressão de que os outros não existem. Logo, para compreendê-lo é preciso perguntar, antes de tudo, o que é que omite.
O que está omitido na pergunta acima é a possibilidade de que alguém se dedique de todo coração a alguma coisa sem ser por necessidade econômica nem por prazer - ou, pior ainda, que continue se dedicando a ela como se fosse a coisa mais importante do mundo mesmo quando só dá prejuízo e dor de cabeça. O que está omitido nessa pergunta - e no modo brasileiro de ver as coisas - é aquilo que se chama vocação.
Vocação vem do verbo latino voco, vocare, que quer dizer "chamar".
Quem faz algo por vocação sente que é chamado a isso pela voz de uma entidade superior - Deus, a humanidade, a história, ou, como diria Viktor Frankl, o sentido da vida.
Considerações de lucro ou prazer ficam fora ou só entram como elementos subordinados, que por si não determinam decisões nem fundamentam avaliações. (pág. 47)
Um pouco da ética da vocação existe ainda entre nós graças à influência dos imigrantes, especialmente alemãs, árabes e judeus, mas existe de modo tácito, implícito, jamais consagrado como valor consciente da nossa cultura e muito menos valorizado pelas escolas e pelos governos.
A realização superior do homem na vocação é então substituída pela mera busca do emprego, visto apenas como meio de subsistência e sem qualquer importância própria no que diz respeito ao conteúdo. A adaptação conformista a um emprego medíocre e sem futuro é considerado o máximo do realismo, a perfeição da maturidade humana. Tudo o mais é depreciado ( e por isto mesmo hipervalorizado e ansiosamente desejado) como "diversão".
Assim, entre o trabalho forçado e a diversão obsessiva (da qual o carnaval é a amostra mais significativa), acumula-se na alma do brasileiro a inveja e uma surda revolta contra todos os que levam uma vida grande, brilhante e significativa, sobre os quais, mesmo quando pobres, paira a suspeita de serem usurpadores e ladrões, pelo menos ladrões da sorte. Daí a famosa observação de Tom Jobim: "No Brasil, o sucesso é insulto pessoal." Sim, nesse meio não se compreende outra lealdade senão o companherismo dos fracassados, em torno de uma mesa de bar, despejando cerveja na goela e maledicência no mundo. Este é um país de gente que está no caminho errado, fazendo o que não quer, buscando alívio em entretenimentos pueris e desprezíveis, quando francamente deprimentes.
Nossa ciência social, atada com cabresto marxista e cega às realidades psicológicas mais óbvias da nossa vida diária, jamais se deu conta da imensa tragédia vocacional brasileira, que condena milhões de pessoas a viver presas como animaizinhos, entre a dor inevitável e o prazer impossível.
E que a explosiva acumulação de paixões infames, inevitável nessa situação, é o caldo de cultura ideal para a germinação dos ressentimentos políticos. E uma ciência social rebaixada a instrumento auxiliar da demagogia não há de querer lançar luz justamente sobre aquela treva confusa da qual a demagogia se alimenta. (pág.48-49) (Grifos nosso)
DICIONÁRIO:
Maledicência - Ato ou aptidão para falar mal dos outros.
Pueris - O mesmo que banais, frívolos, fúteis, infantis.
Tácito - Oculto, que não se mostra.
O texto acima é suficientemente didático, a afirmação que fiz questão de grifar, ao meu ver retrata e sintetiza com extrema fidelidade a nossa realidade, resumindo em poucas palavras a mensagem que acredito, o autor desejou transmitir.
Realmente são poucas as pessoas que manifestam satisfação na profissão que escolheram seguir ou no emprego. Não importa quais a profissões e quais os empregos, nota-se claramente, num simples olhar mais atento, as insatisfações das pessoas. Viramos todos escravos da própria covardia, do nosso comodismo, da incapacidade de expomos nossas insatisfações e lutarmos contra este sistema que nos corrompe e nos torna corruptos dos próprios ideais e valores que tacitamente acreditamos. Como bem destacou o autor, escondemos e disfarçamos nossas frustrações nos entretenimentos pueris.
Enfim, nos tornamos aquilo que não somos, negamos nossa propria natureza, e responsabilizamos Deus por todo nosso sofrimento, pois é muito mais facil aceitar e justificar nossa ações e/ou omissões quando atribuímos a elas o sentido de: Carma; Da vontade de Deus; Da expiação dos pecados, e por ai vai. Por estas e muitas outras, a pergunta que sempre me vem a mente nestes momentos de reflexão é: "Onde está o botão de Reset desta nação?
[...] todo lugar-comum é um grande recorte que enfatiza certos aspectos da realidade para momentaneamente dar a impressão de que os outros não existem. Logo, para compreendê-lo é preciso perguntar, antes de tudo, o que é que omite.
O que está omitido na pergunta acima é a possibilidade de que alguém se dedique de todo coração a alguma coisa sem ser por necessidade econômica nem por prazer - ou, pior ainda, que continue se dedicando a ela como se fosse a coisa mais importante do mundo mesmo quando só dá prejuízo e dor de cabeça. O que está omitido nessa pergunta - e no modo brasileiro de ver as coisas - é aquilo que se chama vocação.
Vocação vem do verbo latino voco, vocare, que quer dizer "chamar".
Quem faz algo por vocação sente que é chamado a isso pela voz de uma entidade superior - Deus, a humanidade, a história, ou, como diria Viktor Frankl, o sentido da vida.
Considerações de lucro ou prazer ficam fora ou só entram como elementos subordinados, que por si não determinam decisões nem fundamentam avaliações. (pág. 47)
Um pouco da ética da vocação existe ainda entre nós graças à influência dos imigrantes, especialmente alemãs, árabes e judeus, mas existe de modo tácito, implícito, jamais consagrado como valor consciente da nossa cultura e muito menos valorizado pelas escolas e pelos governos.
A realização superior do homem na vocação é então substituída pela mera busca do emprego, visto apenas como meio de subsistência e sem qualquer importância própria no que diz respeito ao conteúdo. A adaptação conformista a um emprego medíocre e sem futuro é considerado o máximo do realismo, a perfeição da maturidade humana. Tudo o mais é depreciado ( e por isto mesmo hipervalorizado e ansiosamente desejado) como "diversão".
Assim, entre o trabalho forçado e a diversão obsessiva (da qual o carnaval é a amostra mais significativa), acumula-se na alma do brasileiro a inveja e uma surda revolta contra todos os que levam uma vida grande, brilhante e significativa, sobre os quais, mesmo quando pobres, paira a suspeita de serem usurpadores e ladrões, pelo menos ladrões da sorte. Daí a famosa observação de Tom Jobim: "No Brasil, o sucesso é insulto pessoal." Sim, nesse meio não se compreende outra lealdade senão o companherismo dos fracassados, em torno de uma mesa de bar, despejando cerveja na goela e maledicência no mundo. Este é um país de gente que está no caminho errado, fazendo o que não quer, buscando alívio em entretenimentos pueris e desprezíveis, quando francamente deprimentes.
Nossa ciência social, atada com cabresto marxista e cega às realidades psicológicas mais óbvias da nossa vida diária, jamais se deu conta da imensa tragédia vocacional brasileira, que condena milhões de pessoas a viver presas como animaizinhos, entre a dor inevitável e o prazer impossível.
E que a explosiva acumulação de paixões infames, inevitável nessa situação, é o caldo de cultura ideal para a germinação dos ressentimentos políticos. E uma ciência social rebaixada a instrumento auxiliar da demagogia não há de querer lançar luz justamente sobre aquela treva confusa da qual a demagogia se alimenta. (pág.48-49) (Grifos nosso)
DICIONÁRIO:
Maledicência - Ato ou aptidão para falar mal dos outros.
Pueris - O mesmo que banais, frívolos, fúteis, infantis.
Tácito - Oculto, que não se mostra.
O texto acima é suficientemente didático, a afirmação que fiz questão de grifar, ao meu ver retrata e sintetiza com extrema fidelidade a nossa realidade, resumindo em poucas palavras a mensagem que acredito, o autor desejou transmitir.
Realmente são poucas as pessoas que manifestam satisfação na profissão que escolheram seguir ou no emprego. Não importa quais a profissões e quais os empregos, nota-se claramente, num simples olhar mais atento, as insatisfações das pessoas. Viramos todos escravos da própria covardia, do nosso comodismo, da incapacidade de expomos nossas insatisfações e lutarmos contra este sistema que nos corrompe e nos torna corruptos dos próprios ideais e valores que tacitamente acreditamos. Como bem destacou o autor, escondemos e disfarçamos nossas frustrações nos entretenimentos pueris.
Enfim, nos tornamos aquilo que não somos, negamos nossa propria natureza, e responsabilizamos Deus por todo nosso sofrimento, pois é muito mais facil aceitar e justificar nossa ações e/ou omissões quando atribuímos a elas o sentido de: Carma; Da vontade de Deus; Da expiação dos pecados, e por ai vai. Por estas e muitas outras, a pergunta que sempre me vem a mente nestes momentos de reflexão é: "Onde está o botão de Reset desta nação?
Fonte: CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2014.