O conceito de cultura e seus entendimentos: antropologia e senso comum

DA MATTA, Roberto. Você tem cultura? Jornal da Embratel. Rio de Janeiro, 1981.

Ao ler o artigo publicado por Da Matta, é clara a percepção de que o autor vem trazer o conceito científico de “cultura” para desmitificar o emprego usual de tal termo em nosso cotidiano. Para tanto, é preciso esclarecer as noções básicas sobre cultura e o que elas podem nos dizer sobre seus usos. Num primeiro momento, Da Matta (1981) nos exemplifica dois tipos de colocação que são comuns nas falas de indivíduos que convivem numa dada sociedade. Em um dos exemplos, quando se refere à Maria, que “não tem cultura”, o autor nos explica que, dentro deste contexto, cultura é decodificada como “sinônimo de sofisticação, de sabedoria, no sentido restrito do termo”.

Partindo desse modo de ressignificar “cultura”, é justificável explicar que, muitas vezes, “cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas [...] servindo como uma arma discriminatória”. Para esclarecer isso, Da Matta (1981) compara o uso do conceito de “personalidade” aplicado ao dia a dia, diferenciando-o em dois meios distintos. Mostra-nos que para o ramo científico, ou seja, na Psicologia, “personalidade” nada mais é que um conjunto de características pessoais inerente a cada sujeito; em contraponto traz o significado dessa mesma lexia num outro ponto social, regido pelo senso comum, de que “personalidade” quer dizer postura, magnetismo pessoal.

Posteriormente a comparação, o autor retifica o uso diferenciado de “cultura” agora no campo científico da Antropologia:

Quando um antropólogo social fala em “cultura”, ele usa a palavra como um conceito chave para a interpretação da vida social. Porque pra nós, “cultura” não é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de “civilização”, mas a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa (DA MATTA, 1981, p. 02, grifos do autor).

É possível entender, deste modo, que cultura é muito mais do que simplesmente um amontoado de saberes acerca de determinado instrumento ou de vários instrumentos que veicula (m) conhecimento; cultura é a vestimenta abstrata de cada sociedade, é o que representa os modos de organização que essa precisou desenvolver para se adaptar e permanecer em unidade e interação ao longo dos anos. Cultura é o traço de cada povo, em suas manifestações diversas em níveis (individual ou social), que permite o estudo de si através do olhar externo ou interno, através da coleta de informação das regras de convivência ou da observação de costumes que são compartilhados entre si há épocas, entre outros meios.

Com essa elucidação, Da Matta (1981) adentra em dois sub-conceitos que se difundem a partir da apropriação que se faz popularmente de “cultura”: “baixa” e “alta cultura”. O autor explica que não é justificável o uso de nenhum destes termos haja vista que “todas as formas culturais de uma sociedade são equivalentes e, em geral, aprofundam algum aspecto importante que não pode ser esgotado completamente por outra ‘subcultura’”.

Para finalizar, o autor ainda explana sobre a distinção entre eventos e fenômenos sociais que, a certo modo, estariam nesse recorrente quadro antagônico de “baixa” e “alta cultura”, mostrando que nenhum pode ser descartado ou desprezado, pois ambos são aparelhos válidos para compreender as manifestações culturais e suas diferenças, nos tornando mais “conscientes de nós mesmos”.

Taíse Dourado
Enviado por Taíse Dourado em 18/07/2017
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