"Morrer é não viver a realidade"
"Bobeira
É não viver a realidade
E eu ainda tenho
Uma tarde inteira
Eu ando nas ruas
Eu troco um cheque
Mudo uma planta de lugar
Dirijo meu carro
Tomo o meu pileque
E ainda tenho tempo
Pra cantar"
Assim disse Cássia Eller em sua famosa música "Malandragem". Apesar dessa música ter um bom material para discutir, gostaria de me ater a um ponto: que não é só "bobeira", mas é realmente "morrer" não viver a realidade.
Esse trecho fala de tarefas do dia a dia, coisas simples, que no entanto me instigam, pois são tão triviais e comuns que penso se não querem dizer o contrário: se aquilo tudo que é feito não é "bobeira"!
"Não viver a realidade" Que outra coisa seria tão nociva à nossa vida, quanto não vivê-la? Realmente, não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma, como dizem nos evangelhos, mas é um extremo também pesar que "temos todo tempo do mundo" e "somos tão jovens", por termos uma "tarde inteira"... "livre".
Um tanto quanto infantil, largado e desleixado, mas essa é uma imagem que a música deixa transparecer (pelo menos de modo superficial), de alguém meio perdido, que precisa crescer.
Ter todas aquelas tarefas e ainda ter "tempo pra cantar"... um fim expressivo para o trecho. Ainda, que, ainda, pareça que tudo aquilo foi uma grande perda de tempo, o cantar não. Ter tempo pra cantar lembra de algo importante e vital, algo que vale a pena. Se expressar e gritar pedindo a Deus "um pouco de malandragem" é uma ação e ousadia em tanto! Sem discutir sobre os significados de "malandragem", a personagem achou espaço para cantar e se expressar. Tem algo que valeu à pena naquele dia.
Além de ser uma belíssima peça de mais uma de nossas obras brasileiríssimas, nos traz uma meditação incrível junto com variados sentimentos e reflexões. Sempre é válido trazer à lembrança um trecho de nossas extensas e muito variadas obras. Seja escrita ou cantada, as experiências da vida de uma pessoa podem fazer muita diferença para nós.