Palavras do coração
Quanto tempo tem que a gente não conversa? Quanto tempo tem que a gente não sai só nós duas, sem preocupação, sem hora pra voltar? Sinto saudades dos nossos momentos juntas. Das nossas comprinhas no shopping com lanchinho no McDonald’s no final. Eu quero de novo o mês de dezembro todinho só pra gente, com praia todo dia de manhã. Nossos passeios na Lagoa, no Jardim Botânico. Nós ficávamos horas lá jogando conversa fora, falando sobre a gente, fazendo mil e um planos. Você me ensinou a sonhar. Foi você quem plantou no meu coração cada sonho que eu tenho hoje. Foi você quem me ensinou a amar, a fazer o bem “sem olhar a quem”, me ensinou a respeitar as pessoas, a ser correta, a dar o melhor de mim sempre. Foi você quem me ensinou a amar meu pai. Não gosto nem de pensar que eu já quase te perdi pra sempre.
Lembra quando eu tinha 12 anos e te perguntei (depois de uns bons minutos enrolando) se eu podia ficar com um garoto? Você ficou tão surpresa e desesperada. Respondeu com toda ênfase do mundo: “Julia, nem pensaaaaaaaaaar”. Acho que você não sabia que eu já tinha beijado na boca. Depois, mais calma, você acabou deixando. Será que hoje você já sabe que aquele não foi o meu primeiro beijo? Reconheço, nunca te deixei participar muito da minha vida nesse sentido apesar da gente sempre falar sobre tudo, apesar da gente ter uma relação tão de amigas. Mas não pensa que eu não vi, naquele dia, há muito tempo, você pegando o meu diário, embaixo da minha cama, e lendo exatamente o que eu tinha escrito na noite anterior. Pois é, eu não estava dormindo. Nunca passou pela minha cabeça que você lesse meus diários às escondidas. Você me respeitava tanto. Na hora, até fiquei um pouquinho decepcionada, mas no fundo, achei bom. Assim você ficava sabendo de tudo e eu não precisava te contar.
Você nunca me proibiu de fazer nada – a não ser pular de pára-quedas, claro. Nunca me obrigou a nada, me convencia com jeitinho “coloca só um pouquinho, mistura no arroz e no feijão, você vai ver que é uma delícia” Quando eu era pequena, achava o máximo poder me vestir do jeito que eu quisesse, enquanto a maioria das minhas amigas vestia as roupas que as mães delas escolhiam. Você sempre me deu liberdade pra fazer minhas próprias escolhas, me orientava, me mostrava os três lados da mesma moeda, mas nunca interferiu nas minhas decisões. Foi assim, na segunda série, quando eu decidi que não iria fazer o curso de inglês. Foi assim, quando eu decidi com cinco anos de idade, que eu não queria ficar mais na casa da minha avó pra você e pro meu pai trabalharem, queria ficar sozinha em casa, foi assim quando eu disse que não queria festa de 15 anos, mesmo sendo o seu maior sonho.
Você foi e é tão boa pra mim. Cometeu muitos erros, mas todos (até o pior deles) foi por me amar muito, eu sei. Você abriu mão de tantas coisas por minha causa, se dedicou tanto todos os dias da sua vida. Eu não mereço tanto e nem sou capaz de retribuir tudo o que você fez por mim. Tudo que eu sou hoje, sou graças a você, se cheguei até aqui foi porque você lutou pra isso. Te quero bem pertinho sempre. Te quero cuidando de mim sempre. Você é o meu esteio, minha sorte, meu maior exemplo - se eu for metade da mulher que você é, serei muito - minha amiga, minha irmã, minha heroína, meu maior amor, minha paz, meu tudo, minha mãe. Te amo muito!
“Você me abre seus braços
E a gente faz um país”