Naquele tempo
Vivíamos embriagados com nossos próprios problemas
Inquietávamos apenas quando inspirados pelos motivos errados
Deixávamos de lado a razão para jogarmos bananas
Abracávamos as piadas pois não era errado rirmos
Soluçávamos, sem saber, os ares imobilizados
Não tinham como irem contra a maré
Enquanto distorcíamos sua agitação
Gostávamos de dizer para agirmos civilizadamente
Roubávamos o fôlego daqueles injustiçados
Ainda hoje, tiveram que gritar e bater para serem ouvidos
Sabíamos desde sempre então, da nossa desigualdade
Irados, queimavam e destruíam
Mas novamente, roubávamos o fôlego de vida dos oprimidos
Prestávamos socorro aos que tinham voz. Mas aqueles que não tinham
Ousavam unidos, de joelhos em uma única oração
Respeitar a voz de quem hoje já não fala mais
Também gritávamos! Mas o grito não era reconhecido
Ainda mais de quem já tem muito palco
Mesmo assim, hoje só posso escrever. Porque agora eu é que
Não consigo respirar.