O Tempo e a Vida

As tiras róseas caiam

como pêndulos mágicos

sob seu rosto.

Mechas desfainadas

lhe davam um brilho purpúreo,

que se visavam entre os olhos

esverdeados, como se fosse uma

a dualidade entre a fantasia

e uma realidade que jamais

viria a alcançar.

Espaço ralo de terra

que nos separavam

à luz de um poente desbravado,

como vulcões sem nome

e sem dono.

O giro do pombo, na córdea

do espaço, o falante arquejar

de pássaros no ar, trazia

uma plenitude que, no interior,

jamais viria a possuir.

Se nisso passou num

minuto - de poderosos

dez anos -,

ficando como arder

de preventivo e angústia,

o resto da vida.

Naquele tempo

éramos como dois

pássaros instigados

por rodear de mãos dadas,

por descobrir um mundo

que só a nós pertencia.

De qualquer maneira,éramos

maqueteados por amor,

coloridos por mágicos azuis,

com dobras de carmim afeitados.

Outro dia, mespasso

atravessei a rua de solavancos,

e, vi, radiante do outro lado,

meu sol de ontem,

meu outono de imensos espaços.

Tal havia envelhecido,

tal havia perdido o acórdão das

mesclas de juventude.

Mas guardava ainda,

entre os manjares de olhos,

a sobrevida que jamais eu alcancei,

e por mal de deuses entristecidos,

me cativaram prá sempre no soslaio

dos porões dos homens.

Ela passou,

eu passei,

rasgamos o tempo de vida.

Cada um para um oeste,

cada um esperando

nosso cada um,

que o tempo, sábio,

havia de esquecer.

José Kappel
Enviado por José Kappel em 17/07/2006
Código do texto: T195629
Classificação de conteúdo: seguro