Vulnerant omnes ultima necat - Todas ferem, mas a última mata
Visita-te às vezes o pavor de, nesta vida,
Ufanar desenfreadamente os teus instantes?
Liberta-te dessa angústia indevida!
Note que os venenosos minutos de tuas horas
Entregas a uma inquietação acusante!
Revives como acusador, sistematicamente,
Anulando todo o brilho dos teus dias!
Não há mais a mesma glória na qual ascendias!
Toda a vaidade do homem (saibas) a cada instante é roubada!
Os astros, naturalmente, não podem impedir
Manifestar-se a todos a sua grandeza.
Não tens a grandeza dos astros, decerto,
E vais, não obstante, diminuir a tua, num regredir
Subliminar e encoberto?
Uma medida de tempo carrega consigo falcatas,
Lanças, chicotes e misericórdias!
Tolhe ao homem o escape!
Insistes, ainda, em cobrir as tuas glórias?
Muito pouco lhe restará para que seja notável
A tua existência! E menos ainda para que seja desejável!
No esplendor ou menoscabo, entretanto,
Entenderás, meu senhor, na ocasião exata,
Como são árduas as longas horas
A quem se deixa ofender sem muitas glórias, (pois)
Todas ferem, mas a última mata!