Senhora

De macaco em macaco, fez-se a macaquice. A senhora é das novas, não dispensa o “senhora”. Carrega, na rebeldia dos 80, pele limpa, nada de furos artificiais, dentadura (com Corega) bem como cabelos presos e sem corte. Toma seu chá acolhendo a xícara com corcunda de interrogação. A velha esconde bem o aviso prévio da morte: não tem identidade.

Escondida no colchão do último asilo, rouba da mulher os dois dígitos revelados sem consentimento. Quando alguém pergunta, os dígitos ficam invertidos. E, assim, escapa seu único conservadorismo: querer mudar a realidade. Com a peculiaridade de que tal conservadorismo vai além da utopia. Ela é o que diz. Experimente contrariar.

Na última conversa que tivemos, fiquei boba com a minha flacidez de caráter. Quando argumentamos, aceitei tudo que ouvi, e nem me dei ao trabalho de interrogar. Uma tremenda falta de respeito. Coisa de gente inexperiente.