Caminho - uma confissão.

Era princípios de novembro do ano de 2010.

Sentado nos pés da cama no quarto de dormir, me encontrei.

Estava ao fim de um ciclo que deveria por fim.

Tinha sido um período de intensa luta, confrontando razão com razão.

Era preciso apaziguar, descansar e recomeçar, fosse pra onde fosse.

E assim foi feito.

Não sabia para onde estava me dirigindo, para qual enfrentamento. Mas logo ali dois meses depois, deparei com a inusitada. Não a morte de um velho, cansado, realizado, senão de uma menina que por sua livre escolha, na sua razão, resolve interromper uma experiência, que era sua que era nossa.

Quero te dizer adeus

E ao dizer, dizer-te mais.

Entre os que foram meus, dos teus.

Fui eu quem te amou de mais.

Se hoje nos perdoo

é pois que intenciono mais.

E antes de ver-me morto

quero ser seu novo pai.

Parte de mim morreu também aquele dia.

O Guerreiro renasceu e a guerra foi mais contundente. Razão com razão. Ao passo que ao meu redor acompanhavam muitos dos que caminhavam comigo, desistindo, se entregando, aceitando, rituais e dogmas.

Começo a entender que a estrada escolhida, o caminho escolhido não nos leva a um fim. A estrada que escolhemos é para ser caminhada. Nesse caminho caminhado chegaremos ao outro. Essa é a talvez seja a verdade.

Por quanto entendo que por algum motivo ainda que não sei explicar, tive tempo de repensar meu caminho, naqueles dias, e me fortalecer para enfrentar o que me esperava.

Novamente me encontro como naqueles dias, seis anos depois. Me dou conta que deva estar novamente em um tempo de preparação, de fortalecimento. Quem irei perder dessa vez?

Olho ao meu lado, as pessoas que me importam e me apavoro com a simples possibilidade de novamente passar por momentos de sentimentos tão intensos. Culpas, dúvidas, raivas.

Ainda ontem recebi uma notícia que me entristeceu, que de certo modo desencadeou esse sentimento confessado. Um amigo, um ser humano, crente, a pouco mais de três meses se viu com um câncer. Comparando as minhas escolhas com as deles, os hábitos... eu é que deveria estar com câncer. Quem saberá explicar!? o câncer está com ele, porém o doente sou eu. Com ele, sua experiência, seu exemplo, encontrarei a cura (?).

Ainda ouvindo uma linda historia sobre confissão, em um diálogo entre dois personagens de um filme italiano, onde um é o crente que se confessa e outro um religioso, depois de uma longa conversa o primeiro pergunta quanto tempo dura uma confissão.

O Religioso cita Agostinho. Diz que Santo Agostinho julgava que a confissão é o grito da alma.

Imediatamente o religioso pergunta ao confesso o quanto ele quer que seu grito dure.

Lembro novamente da cigarra, que para libertar-se da carapaça que lhe aprisiona e a impede de ser maior do que é, canta em busca de companhia, passageira. Num ciclo interminável, descansa no oco do chão, para retornar em uma próxima primavera com a mesma missão, cantar, romper seu limites para ser grande.