A solidão é um bem.

Se veste-me a solidão,

vez ou outra, necessária,

sem me fazer cativo,

até lhe sou festivo,

porque não sendo pária,

escolho minha multidão.

Se sou, então seu dono

e uso-lhe como serviçal,

a dispensar-lhe convite,

aprecio-lhe ao meu alvitre

não crendo ser um mal

entregar-me a seu abandono.

Porque se faz um bom dono

ao usar do que pode e tem,

se tem e não pode usar

está apenas a assaltar

e se pode, mas é de outrém,

melhor desperdiçar-se em sono.

Quem há de dizer de mim, "coitado!"

pouco sabe sobre felicidade;

Quem me há de taxar, "antissocial!"

sobre controlar-se, sabe muito mal.

Nenhuma roupa me traz fealdade,

quanto o cansaço do humor tricotado.

Essas firulas necessárias à corte;

Essas cortes que dependem de sorte.

Parecem mais prisões a tanta gente

e morte a tantos de tão deprimente.

Só vestindo o escarnecer da solidão,

individual e silenciosa consagração!

Pedro Aldair
Enviado por Pedro Aldair em 13/08/2015
Reeditado em 13/08/2015
Código do texto: T5345303
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