A MEMÓRIA DA LIBIDO

Abertamente afirmo que o escritor tem que ter a coragem como íntima parceira, bem como uma forte dose de destemor para aguentar as antíteses (a ferina língua dos adeptos do convencionalismo sempre conservador), caso contrário, este frágil espécime do ser – o poeta – cai no buraco ou se esconde debaixo da casquinha do caramujo. Sim, porque não há nada mais confidencial e intimista do que o poema de expressão lírica que nasce dos jogos do amar. Psiquicamente, o exercitar desta temática amorosa (em Poesia) representa um desvencilhar-se das silhuetas e fantasmas que – solertes – escapam ao controle emocional e ameaçam o cotidiano, por serem frutos dos ardilosos atos da possessão, suas farsas e fantasias. Os autores destas revelações intimistas temem a trazida dos fatos ocorridos no mundo do real e a identificação de seus personagens, bem como o provável constrangimento que estas revelações causam. A simples possibilidade da ocorrência da delação a outros produz angústia e escancara insatisfações e medos. O sexo virtual é um bom exemplo destas intercorrências, que estão sempre presentes nos jogos da memória da libido e doem mais do que o sofrimento que possa existir no psíquico, atingindo fortemente o corpo físico. Muitas vezes, esta é a raiz da depressão, doença difícil de enfrentar e de demorada cura. No entanto, a prática da Poesia, para muitas pessoas, funciona como um bálsamo e é motivo de gozo e de realização momentânea. Para alguns, a arte poética é o único medicamento possível sem custo material aparente.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.

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