Do barreiro ao cansa-burros,
Ainda é uma boa estirada;
Bem assada e com dois murros,
A batata era da horta da sarnada.
No Musiado tinha neve,
Que se tirava de lá com a pá,
Os carros vinham ao de leve,
E todos se atolavam por lá!
Nós os garotos daquele povo,
Ali ficávamos só ali d’espreita,
Púnhamos lá a neve de novo,
P’ro dono do carro nos dar a receita;
Quatro tostões ou ‘ua croa,
Era p’ra quem desatolar da maleita,
-- Pensei que a estrada era boa,
Mas afinal, parece que foi mal feita!
Lá no lugar do “Musiado” situado na saída da Aldeia ,na estrada que vai para Bornes, a estrada asfaltada tinha uma baixa na recta e que, sem neve não causava qualquer problema aos carros que por lá passavam, mas com neve a coisa era bem diferente.
- Eu me lembro que naquele tempo de inverno, e quando caía neve em abundância, os carros vindos de qualquer sentido, norte ou sul, mas principalmente os que vinham de baixo da Ladeira do Cansa-Burros, eles faziam a curva que ocultava a baixa que tinha no asfalto, em frente ao campo da bola, e ali se atolavam na neve!
Isto acontecia porque, na entrada da recta o nível da berma da estrada enganava os condutores, que se orientavam pela copa das giestas da valeta, e... como era tudo em linha recta, eles aceleravam.
- Quanto mais aceleravam maior era o mergulho na camada de neve acumulada durante a noite em cima do alcatrão! Mas já perto dos castanheiros que havia ali dos dois lados da estrada a baixa na estrada era mais funda e prontos, alguns lá ficavam à espera que alguém fosse lá ajudar, e a malta nova ia
- Depois de os desatolarmos, e empurrar-lhes o carro para fora da zona de perigo, nós (geralmente só a malta nova ia lá ajudar) voltávamos lá, e colocávamos a neve de novo no mesmo lugar, para que o próximo carro que viesse se enterrar lá de novo... e assim os condutores pudessem, ou tivessem que nos repetir a gorjeta por os termos ajudado a sair de lá.
(in: CURRIÇAS DE CARAVELAS – TROVAS COMENTADAS)
Nota do Autor ; estas lembranças remontam aos anos 50 e 60 do Século XX.