O RINGUE DA PSIQUÊ

“Os punhos da madrugada esfregam suas sombras na cara da insônia. O medo têm mãos azuis e frias. Elas tateiam, trêmulas, à procura da primeira fresta do amanhecer.”.

– Postado pela autora no Facebook, em 07/09/2017.

(a propósito dos “punhos da madrugada” de Marcia Friggi, escriba e confreira na Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências ‘A Palavra do Século 21’ – ALPAS 21, sediada em Cruz Alta/RS, corajosa professora do ensino médio em Indaial/SC, Agosto, 2017)

A insônia é sempre uma parceira prenhe de reflexões sobre alguns senões de percurso: antíteses, desejos insatisfeitos, quiprocós, tal como apareciam no jovem Werther, de Goethe, vindo a lume em 1774, que foram altissonantes a ponto de passados tantos anos, restarem vivos e atuais no espírito humano. Muitos de nós sabemos (ou intuímos) que a criação artístico-literária significa dar vida à farsa, à fantasia e aos sonhos de ser, graças à inventiva peculiar de cada verve autoral estética. O mais curioso é que, mesmo neste reino de personagens tornadas vivas pelos fetiches do fazer literário, o enredo tem que ter certa credulidade capaz de tornar veraz a história e adquirir crédito junto ao receptor. Se tal não ocorre, nada feito, pois o espiritual não consegue dar vida ao que é permanentemente fictício. Enfim, a partir desse cadinho emocional, fazer crível e ameno este emaranhado, que na origem psíquica é truculento, agressivo, cáustico. Transmutavam-se, ao seu tempo de viver, os sofrimentos do jovem Wolfgang Goethe em ebulição, naqueles idos do séc. XVIII? A insônia, como fenômeno vivencial acompanha o ser intrínseco que nos habita. Povoa o nosso inconsciente e modela pés-de-pluma para o memorial do after day. Por vezes, até o travesseiro cochicha suas inquietações e os resquícios turvos sugerem metáforas de imagem sobre o ocorrido (neste momento há véus sobre o fato genuíno), palavra e asas para o depois, que pode vir a se constituir em séculos de encantamento, geração a geração. Estes "punhos da madrugada" derreiam tudo que encontram pela frente: nós mesmos, os incômodos e habituais alter egos e, por vezes, vindo a atingir o plexo solar ou o queixal do antagonista no mundo dos fatos, que de somenos, vai a nocaute. Espantada, a dama insone permanece de olhos abertos à inaudita noite de cochilos ao espelho. E o personagem começa a escrever suas travestidas memórias do viver – nuanças personalíssimas do circunstancial acumulado...

– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/6107170