MENESTREL NO SÉCULO XX?

Poema “Balada do Esplanada”, de OSWAL DE ANDRADE (1890/1954) - Aula no ensino médio.

Autor OA - Questionador do Parnasianismo e proposta, em seu “manifesto”, de poesia inovadora, formas novas: síntese, equilíbrio, invenção, surpresa, ironia, ‘humour’, língua falada brasileira, imagem direta, tema da vida contemporânea, valorização do coloquial (para HAROLDO DE CAMPOS, “economia de meios”).

Modernismo na fase inicial de derrubar ídolos.

Balada medieval - forma fixa de 3 oitavas (conjunto de 8 versos ou linhas) seguidas por uma quadra chamada oferta - aparece esta palavra no poema, sozinha, verso isolado.

Balada atual - forma irregular, condenando o formalismo antigo e tentando condenar também o servilismo literário - poeta dito moderno não conseguiu... - lirismo ainda imitado; reposto aqui o verdadeiro lirismo. Contudo, lirismo ainda antigo - paródia de baladas tradicionais, arte dos menestréis. Com a balada, o poeta alcança a poesia.

Ditirambo - poesia lírica de louvor e entusiasmo - alegre apoteose sem métrica, em rima.........

Aspecto formal - 8 estrofes, número variável de versos de diferentes metros, predominando os breves - outrora já existiam poemas de 2, 3 ou 4 versos curtos.

Rima irregular: versos 3-aprendia-4-fazia-16-poder-17-encher; 7-hotel-18-papel-21-menestrel-27-menestrel-28-inspirar-35-menestrel-36-hotel-38-hotel-41-Hotel-43-dor-44-flor-45-beija-flor-46-elevador-53-amor --- logo, ruptura com o passado não é completa.

Ruptura proposta nos manifestos - a do formalismo e servilismo do ritmo, da língua e de sentimento.

Assunto - aspectos da vida cotidiana.

Vocabulário popular, construções sintáticas simples; no conjunto, o tom predominante representa uma inovação coloquial.

Poeta manifesta a ambição de ser um menestrel, poeta-músico da Idade Média e, no reforço da idéia, usa expressões grafadas à moda arcaica: verso 6 - antes d’ir; verso 15 - Eu qu’ria; verso37 - Mas no (por “não”) há poesia; verso 40 - ’Splanada; verso 41 - Grand-Hotel --- vogais elididas (desaparecidas), imitando pronúncia portuguesa.

A idéia de menestrel lembra castelos e cavaleiros - no lugar deles, hotel e elevador; efeito de surpresa e ironia.

“...meu hotel” - ainda que luxuoso, hotel é sempre casa e sugere a pura companhia - hotel transformado em lar, que por sua vez sugere solidariedade - a poesia existe no lar?

Esplanada Hotel - grandiosidade paulistana e inspiradora em 1922 e anos próximos, tempo da Semana de Arte Moderna. Era chique morar num hotel e se sentir um fidalgo de solar (etimologia, aglutinação: filho de algo), reino das mordomias.

Figura corriqueira atual que nos prova o lirismo da vida de todo o dia - um jornal, inexistente naquele tempo de outrora. (Somente no século XV a invenção da imprensa.)

“Mas no há poesia num hotel...” - coisas onde, para o poeta, há poesia (nem sempre aceitas pela poesia tradicional): dor, flor, beija-flor /3 fontes tradicionais/, elevador /inovação/ --- elevador, elemento da época contemporânea do poeta, símbolo de progresso, ‘veículo’ que trará o amor: inovação no vocabulário poético e produz efeito de surpresa e humor

Também poesia no elevador, que nos aparece como um momento de encontro - “Quem sabe / Se algum dia / Traria / O elevador Até aqui / O teu amor.”

NOTAS DO AUTOR:

OSWALD DE ANDRADE - “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”, publicado em 1924 no jornal Correio da Manhã, e Manifesto Antropófago” (ou “Antropofágico”), 1928.

MENESTREL - Na Idade Média, poeta e bardo que criava ou memorizava e floreava obras alheias, alguns eles errantes de cidade em cidade, exercendo predominantemente as funções de músico (tocavam rabeca, ancestral do violino, e alaúde, ancestral do violão e da viola de nossos dias) e cantor, e também de dramaturgos, dançarinos, acrobatas e malabaristas, ora junto aos fidalgos ora junto ao povo.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 07/07/2017
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