ETERNA POESIA MEDIEVAL (breve aula)

MANUEL BANDEIRA leu obsessivamente as canções do início da literatura e para eliminar a obsessão (palavra dele...) incluiu em sua “Lira dos cinquent’anos, um ‘cantar de amor’, poema em linguagem e estilo dos trovadores do século XIV, cujo início é: “Mha senhor, com’oje dia son, / Atan cuitad’e e sem cor assi!” Gramaticalmente, tudo perfeito, amor é coisa eterna. // Fui aos meus guardados. // Dele novamente, “Madrigal (gênero musical profano, dos séculos XIII a XVI) tão engraçadinho” - “Tereza, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive /comparação incomum/ o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.”

Num tempo muito antigo, século VIII, LÍRICA MOÇARABE na Península Ibérica, praticada por poetas cristãos, mouros e judeus na Andaluzia, civilização híbrida semítica-cristã em duplicidade linguística, influências de marcas, isto é, elementos árabes e hebraicos. Algumas ‘moaxahas’ (árabe literário) apresentavam remates, isto, estribilhos de 3 ou 4 versos em caracteres árabes ou hebraicos, denominados “kargas” ou “carjas” que eram cantadas exclusivamente por mulheres, à semelhança das futuras fiindas portuguesas, versos finais de certos poemas líricos medievais da Espanha (escritos com caracteres árabes ou hebraicos em que faltavam as vogais, idiomas apenas consonânticos, tradução só a partir de 1948).

(Frases interrogativas ou exclamativas iniciadas com ponto de interrogação ou exclamação de cabeça para baixo.)

“Qué faré, mamma? Meu ‘al-habib’ est ad yana.” --- Que, farei, mamãe? Meu amigo está na porta.

“Viénid la Pasca, ed yo sin ellu! Com caned mio corachon por ellu!” --- Vem a Páscoa, e eu sem ele! Como arde meu coração por ele!

“Qué fareyu ou quél será de mibi? Habibi, no te tuelgas de mibi!” --- Que farei ou o que será de mi? Amigo, não te separes de mim!

“Mio Sidi Ibrahim, vente mib de noyte, in non, si non queria iréme tib: garme a ob legarte.” --- Meu senhor Ibrahim é homem doçura, vem a mim à noite. E se não quiseres, ir-me-ei a ti, diga-me onde te encontrar.

Depois, séculos XI-XII, aí é que começou o lirismo (forma + sensibilidade) da França, passou à Galiza e influenciou os portugueses. // Cantiga de amigo - poeta se coloca no lugar da dona, o “eu feminino, e ela conversa com a mãe, a aia-confidente e as amigas, contempla a natureza, saudades do amado na guerra, psicologia de ânsias e expectativas. Muitos exemplos na poesia de CHICO BUARQUE DE HOLANDA. // Cantiga de amor - ascensão da mulher na sociedade com o cristianismo. Trovador era vassalo da mulher, relação servil, fala das emoções do “eu” masculino, ela inacessível, idealizada, amor cortês, palaciano, mesmo focalizado como impossível para o casamento - amor lírico, de favor ou súplica. Muitos exemplos na poesia muitas vezes erótica de VINÍCIUS DE MORAES.

Assim foi, assim é, assim será sempre.

F I M