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Disse o poeta: "Nós formamos nossa história e nossa visão de nós mesmos de duas formas: narrativas e imagens. A época atual privilegia as imagens em detrimento das narrativas, mas são imagens, essas, nascidas de narrativas, são, portanto, imagens que codificam textos (e esses codificam imagens [primitivas]).

A imagem contemporânea - imagem técnica - todavia, é a morte, na medida em que ela congela, ela paralisa o tempo (se a vida é mudança constante no tempo), reduzindo quatro dimensões espaçotemporais a apenas duas espaciais. A imagem técnica, diferentemente da narrativa, não conta (ou assim não pretende), mas dá (por isso o emburrecimento generalizado). Ela pretende dar cruamente, ligando diretamente a imagem ao sentido (e forçando a ignorância do aparato que se interpõe "invisivelmente" aí).

Vivendo, porém, hoje, numa época em que o mundo nos é dado por imagens, nós criamos narrativas a partir de um acúmulo (arquivo) de imagens, donde podemos retirar e reordenar, até que nos agrade a imagem que fizemos de nós mesmos. Contudo, também o mundo nos é dado (não pensado) por imagens, assim sendo, ele já aparece configurado e organizado de um certo modo (e de um certo modo que não propicia a leitura diversa, que não quer permitir pensar o interposto).

Que me dizes?"

Disse o amigo do poeta: "Entendi o que quis dizer mas a essência da mensagem ainda está a processar."

Replicou o poeta: "Vou aproveitar tua própria fala, então.

O que é a essência de uma mensagem? Há algo assim?

Se a linguagem não é transparente, isto é, preciso usar deste código compartilhado para refletir meu intento e pensamento a ti, não posso dizê-los diretamente, e se praticamente todas as palavras têm interpretações variáveis, então existe algo fixo e claro como "a essência da mensagem"? Ou existe apenas um acordo de entendimento firmado na linguagem (implicitamente) que nos faz conviver e entender uns aos outros, tentando minimizar as variações quando necessário/intentado (mesmo que não as possamos impedir)?"