Sonetos de Luís de Camões

Dai-me a lei, Senhora, de querer-vos,

Porque a guarde sob pena de enojar-vos;

Pois a fé que me obriga a tanto amar-vos

Fará que fique em lei de obedecer-vos.

Tudo me defendei, senão só ver-vos

E dentro na minha alma contemplar-vos;

Que se assim não chegar a contentar-vos,

Ao menos nunca chegue a aborrecer-vos.

E se essa condição cruel e esquiva

Que me deis lei de vida não consente,

Dai-ma, Senhora, já, seja de morte.

Se nem essa me dais, é bem que viva,

Sem saber como vivo, tristemente;

Mas contente estarei com minha sorte.