Vende-se Um Soneto (republicando)

Em março de 2015 postei este soneto. Recentemente, num e-book do recantista Herculano Alencar, encontrei uma possível resposta.

Vende-se Um Soneto

Quantos mil réis vale um soneto

Destes que louco componho

Em horas que acordado sonho

Que tudo vejo em branco e preto?

Vendo este verso obsoleto,

Cheio de mágoas e tristonho,

Obra de um poeta bisonho,

Pobre de fé e maledeto.

A quem comprar, dou de presente

Um coração quase sem uso,

Um dissabor ainda quente,

E tudo mais por que padeço.

Se queres comprar bota um preço

Que de avaliá-lo me escuso.

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Valor venal

No mercado da arte um soneto

Não vale uma resma de papel.

E vale muito menos que um pincel,

Ou uma foto antiga em branco e preto.

No mercado da arte um menestrel

É como um camelô de poesia

A procurar, em plena luz do dia,

Vestígios de estrelas pelo céu.

Não fosse eu um bardo do parnaso

E jogaria fora a flor e o vaso

Em que cresceu meu último soneto.

Arrumaria a tinta e o pincel

E pintaria, no azul do céu,

A flor, jogada fora, em branco e preto.

Herculano Alencar

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 21/05/2017
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