KYRIE ELEISON; ou: A Quinta Estação - SONETO DODECASSÍLABO PELÁGICO

"Sur l'onde calme et noire où dorment les étoiles

La blanche Ophélia flotte comme un grand lys"

(Arthur Rimbaud)

"E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni?" (Marcos 15:34)

O que, afinal, nos resta? É findo este mormaço:

Solto, o ar se levanta, e cessa o suor, que verte;

E a cinza vã, nas têmporas, do tempo o passo

Célere acusa. O inverno chega e tem-me inerte.

Embora! Hoje não há quem tolha-me o abraço

Que as ramas esparrama e em trama se converte!

Num frêmito viril como Odisseu refaço

O amplexo súplice aos joelhos de Laerte:

"Oh, Santo Ambrósio, extrai o sal dos teus devotos;

Num nosocômio cômico o cancro me apaga!

Nenúfares não mais! Só colho agora o lótus.

Lhes sele o solo à nona hora, ou não mais brote-lhes,

Nem escalfúrnia estrale a Ideia frente à chaga..."

E um tordo todo turvo escusa-me: "Aristóteles"...