ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Título: Ensaio sobre a cegueira

Autor: José Saramago

Editora: Companhia das letras

310 páginas

Um motorista parado no sinal, subitamente se descobre cego. É o primeiro caso de uma “treva branca” que logo se dissemina pela cidade inteira.

Confinados em quarentena, os cegos vão se descobrir reduzidos à sua essência humana, convivendo com o medo, a desconfiança, em meio ao caos em que logo se percebem envolvidos, com o preconceito, o desespero e até mesmo a resignação e submissão.

Com o conflito estabelecido, temos cegos se aproveitando de outros cegos, cegos odiando outros cegos e cegos mais fortes e em maior número, impondo suas vontades aos considerados mais fracos ou quem sabe, covardes, obrigando-os a satisfazerem seus instintos mais baixos no campo do sexo. Cegos que também passam a controlar e a lutar pela comida.

Nesta impactante e violenta fantasia, “pois nunca se viu de fato uma cegueira branca, feito mar de leite”, Saramago nos apresenta personagens sem nomes próprios, sendo reconhecidas apenas por suas características como a rapariga dos óculos escuros, o rapazinho estrábico, o velho da venda preta, o cego da pistola etc.

Muitos leitores consideram “a mulher do médico”, única a não ser acometida pela estranha cegueira, embora ocultasse o fato de todos para poder permanecer junta ao marido na quarentena, como a protagonista da história, pois é ela quem tenta ser útil aos demais e parece guardar mais lucidez em meio a toda aquela desordem coletiva. Pelas palavras e pensamentos do autor, a mulher do médico parece oscilar ao longo da narrativa entre o peso de ser a única com visão e responsabilidade de cuidar daquela gente e um misto de sentimentos que misturam desesperança, o medo de ficar cega e a tensão provocada por ter de manter sua visão em segredo.

Na verdade, Ensaio sobre a cegueira é uma história sem protagonistas, onde todas as personagens são reduzidas a uma única coisa: um ser humano colocado diante de situações extremas, quando afloram sentimentos como o egoísmo, a raiva e ainda que momentânea, a afeição. Sombras caminhando, unidas ou desunidas, a passos lentos para a luz (branca), mas, ainda sombras.

Por que ficaram cegas repentinamente e por qual causa desconhecida foram recobrando a visão do mesmo modo? O autor não nos oferece nenhuma explicação para estes fatos, como a nos lembrar de que muitas pessoas, embora vejam tudo, vivem na sua cegueira cotidiana. Portanto, é sobre “a cegueira” voluntária ou involuntária dos homens e suas consequências, que José Saramago, com os seus diálogos sem travessão e aspas, nos fala neste livro impregnado da imprevisibilidade humana.

Em 2008, Ensaio sobre a cegueira ganhou uma versão cinematográfica dirigida pelo diretor Fernando Meirelles.