Uma posição corajosa

UMA POSIÇÃO CORAJOSA
Miguel Carqueija

Resenha do livro “Carta Pastoral sobre Cursilhos de Cristandade” por Dom Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos. Editora Vera Cruz, São Paulo-SP, terceira edição, janeiro de 1973.[
Volume de pouco mais de cem páginas, com uma atraente capa ornada com artística cruz, é um estudo denso, sereno e objetivo sobre o polêmico movimento conhecido como Cursilhos de Cristandade, que em certa época dava muito o que falar nos meios católicos.
O digno e erudito D.Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, expõe com clareza e perplexidade as perplexidades e dúvidas que se acham no bojo desse estranho movimento baseado em grande parte no entusiasmo e no relativismo doutrinal. O autor não faz acusações sem provas: cita documentos dos próprios mentores dos cursilhos. E a conclusão lógica é o envolvimento com doutrinas socialistas, marxistas.
Assim comenta D.Castro Mayer em “Cursilhos e lavagem de cérebro” (pg.50-52):
“A importância que Cursulhos dão às emoções e impressões levou muitos a aproximarem o tríduo cursilhista a uma lavagem de cérebro (...) Que algum fundamento tenha semelhante acusação, pode-se deduzir de uma observação sobre o “Manual de Dirigentes”, que lemos no artigo “A História do Movimento de Cursilhos no Brasil”, publicado em “Alavanca” (n° 62, dezembro de 1971, pp.10-14). Descrevendo certos “erros iniciais” do Movimento no Brasil, fundado em 1962, a revista escreve:
“Quanto ao Cursilho propriamente dito (três dias), ocorriam os erros comuns de absolutização do Manual de Dirigentes, tolhendo-se as iniciativas, prendendo-se mais à letra que ao espírito de cada peça do Movimento (...) Porém o “impacto” premeditado, a coação e o uso de técnicas que absolutamente atingiam ou condicionavam a liberdade do homem, conflitavam com a nossa visão de uma liberdade responsável” (pg.11)
(D.Castro Mayer) “Sem afirmar que Cursilhos adotem o método de lavagem de cérebros empregado pelo comunismo soviético ou chinês ou, outrora, pelo nazismo, observamos contudo que D.Hervás, em “Interrogantes y Problemas sobre Cursillos de Cristianidad”, ao procurar responder a essa objeção, no cap. 28, de fato nada contesta. Introduz o seu arrazoado, dizendo que não sabe “exatamente em que consiste uma lavagem de cérebro”, e a seguir afirma que “dizer que os Cursilhos de Cristandade são uma lavagem de cérebro é pronunciar com seriedade uma verdadeira tolice” (p.366). — Não cremos que semelhante maneira de enfrentar o problema possa convencer a alguém.”
Na sequência, os próprios títulos da análise do bispo são significativos: “Extenuação dos efeitos do pecado original”; “Cursilhos e mortificação voluntária” (“Assim, “Alavanca” estigmatiza como fruto do maniqueísmo, atitudes altamente edificantes da ascética tradicional” – pg.63); “Igualitarismo na Igreja”; “Jesus Cristo, nosso Chefão” (sic).
No trecho final da carta pastoral encontram-se as constatações mais graves. Em “Cursilhos e subversão comunista” lemos na página 89:
“Chegamos, assim, a outros motivos de nossas apreensões: a simpatia que, em meios cursilhistas, se nota pelo marxismo e suas teses. Observa-se, em mais de uma publicação cursilhista, não somente simpatia, mas adesão plena a teses marxistas.”
Enfim, em “Alavanca” (órgão do Secretariado Nacional de Cursilhos no Brasil) 57, de julho de 1971, comentou-se um livro de Louise Rinser, onde aparece esta pérola: “em Política já não ensinamos que o comunismo é mau” (SIC!)
D.Castro Mayer encerra seu magnífico documento lembrando que o próprio Papa Paulo VI referiu-se a uma “autodemolição” da Igreja — provocada sem dúvida pelas desvirtuações doutrinárias como as que D.Mayer aqui expôs.
Na época esta carta pastoral causou forte impacto e foi muito elogiada pelo digno e notável líder católico, Professor Gustavo Corção.

Rio de Janeiro, 22 a 24 de janeiro de 2016.