"Razão e sensibilidade", obra-prima de Jane Austen

“RAZÃO E SENSIBILIDADE”, OBRA-PRIMA DE JANE AUSTEN
Miguel Carqueija


Resenha do romance “Razão e sensibilidade”, de Jane Austen. Editora Nova Cultural, São Paulo-SP, 2002. Título original: “Sense and sensibility”. Tradução: Therezinha Monteiro Deustsch.

A escritora inglesa Jane Austen (1775-1817) em sua curta vida produziu muito, e romances de fôlego como “Persuasão” e “Orgulho e preconceito”. Ambientava suas histórias na aristocracia rural britãnica e seu tema habitual é o casamento, a relação entre homem e mulher, e principalmente pelo ponto de vista feminino. Dona de um estilo nobre e elegante Austen mergulha fundo, e com fina ironia, num mundo de preconceitos e frivolidades, pessoas que não trabalham e vivem de rendas, mesmo assim dissipam seus bens, gente para quem o matrimônio é um negócio e que passa a vida em intrigas, maledicência, festas, caçadas (atividade hoje execrada mas que então era considerada chique), enfim no materialismo e no hedonismo. No meio disso surgem personagens mais nobres, que conseguem enxergar o egoísmo e a frivolidade desse modo de viver. Ainda assim é um mundo que não valoriza o trabalho, executado por criados de ambos os sexos que sempre acompanham essa aristocracia e que em geral sequer são nomeados; aparecem como parte da mobília e não possuem vida particular.
“Razão e sensibilidade” mostra a habilidade que a autora possui em amarrar as muitas pontas da trama, que vem a ser um fascinante estudo da dubiedade humana, da boa-fé feminina e, por que não dizer, da canalhice masculina. Há nessa história mulheres egoístas e más, porém sobressaem os homens que por mau caráter e covardia perante a família, enganam as mulheres.
A heroína do romance é Elinor, a mais velha de três irmãs. Dotada de bom senso, prudência, paciência e amor para com as pessoas da família, a começar pela mãe, ela tem consciência das idiossincrasias, preconceitos e injustiças ao seu redor. Sabe das suas próprias fraquezas, como enamorar-se de um homem que não se havia declarado e que não tinha suficiente liberdade dentro da família (sempre as considerações financeiras). Ela procura proteger a irmã, Marianne, de 17 anos, esta sim problemática, super-apaixonada por certo cavalheiro Willoughby, um sonso que dá esperanças à jovem mas que na verdade não tem nenhuma intenção de se comprometer.
Quanto à irmã mais nova, Margareth, tem 13 anos e pouco aparece.
Há um desfile de personagens interessantes na trama, desde a crédula mãe das três irmãs ao seu meio-irmão dominado pela esposa interesseira e que trabalha para passar para trás a cunhada. Há a extravagante Sra. Jennings, mexeriqueira por natureza mas dotada de senso de justiça. Há o bondoso Coronel Brandon que se enamora por Marianne mas, por ter 35 anos, é considerado velho.
Enfim é um atraente desfile de tipos humanos que retratam bem o lugar e a época.

Rio de Janeiro, 9 a 12 de agosto de 2017.