A heroína Rosa Gryphus

A HEROÍNA ROSA GRYPHUS
Miguel Carqueija

Resenha do romance “A tulipa negra”, de Alexandre Dumas. W.M. Jackson Editores, São Paulo-SP, 1963. Grandes romances universais, volume II. Título original: “La tulipe noire”; edição original francesa de 1850.

Este romance de Dumas, o autor que, conforme atestado por Leslie Charteris, “parecia dar vida à História”, pode também ser considerado uma obra de ficção científica, nos campos da Botânica e da Floricultura. Gira em torno do jovem e idealista Cornélio Von Baerle, na Holanda de 1672, que dedica a sua vida a cultivar tulipas e especialmente, a buscar obter a até então inalcançada tulipa negra, visando inclusive o prêmio de cem mil florins proposto pela sociedade tulipista de Harlem. Na sua casa em Dordrecht o cultivador vai religiosamente fazendo as suas pesquisas, os seus cruzamentos para escurecer a flor, até obter as quatro cebolas (bulbos) que irão gerar as flores negras.
É aí que a fatalidade o atinge, pois um vizinho também tulipista e profundamente invejoso, Boxtel, não podendo ele próprio desenvolver a nova flor planeja, de forma maquiavélica, apossar-se da descoberta e lançar seu rival na ruína. Acusado falsamente de conspiração, por causa de seu padrinho que fôra assassinado numa rebelião popular em Haia, e que tinha deixado com ele um documento (que o floricultor sequer lera) é condenado à prisão perpétua.
Cornélio porém escondera os bulbos na roupa, com a esperança de ainda poder cultivá-los. É aí que entra em cena Rosa Gryphus, a adolescente, linda e inteligente, ainda que inculta, filha do feroz e malvado carcereiro. Rosa se enamora de Cornélio e alia-se a ele, concordando em cultivar a tulipa negra segundo as instruções recebidas. A trama é dramática porque Boxtel não desistiu de roubar a tulipa. Por fim Rosa revela-se uma autêntica heroína, como poucas na literatura do século XIX, e quebrará lanças para provar, até diante do príncipe regente, a inocência de Cornélio, bem como a desmascarar o impostor.
Um romance extraordinário, que merece ser lido e relido, e uma heroína extraordinária.

Rio de Janeiro,18 e 24 de julho de 2017.