Eu tenho uma deficiência auditiva

O livro que examinaremos chama-se “Eu tenho uma Deficiência Auditiva”, de Rose E. Sgroglia Machado. Ele faz parte da coleção “Inclusão Educacional”, coletânea que apresenta como conteúdo as deficiências e suas respectivas maneiras de serem cuidadas no âmbito escolar. Com ilustrações de Jaison R. Carvalho, seu ano de publicação foi em 2012. Sem demora, antes do começo da história, a autora responde o que é inclusão escolar e quais os benefícios que a inclusão traz aos alunos e professores (Figura 1) e, também, após o desfecho, há orientações para os pais e professores, para se trabalhar com deficiência auditiva auditiva .

O livro destaca e acentua a deficiência, se distanciando um pouco da criança. Tem uma visão delimitada e preconceituosa, mesmo isso ocorrendo de forma velada, que apenas com um olhar mais atencioso é possível enxergar. A autora, por inocência, descuido ou por uma imagem mental padronizada (que acreditamos ser a mais aparente na sucessão de fatos no decurso da narrativa), deixa transparecer a constante atribuição de papéis acerca das coisas, realçando como estamos rodeados de delimitações, manifestando seu pensamento, de certa forma estereotipado, sobre pessoas com deficiência e transtornos globais de desenvolvimento.

Logo no início, já diz que Pedro era um menino saudável (era, ou seja, não será mais), mamava muito, era um “meninão”. Depois de ter infecção e perda parcial da audição, tornou-se “incompleto”. O decorrer da história procede-se no ambiente escolar, apresenta o menino continuamente se justificando, dizendo que está compreendendo a matéria, ou somente está se esforçando para jogar bola. Ele é obrigado a se adaptar ao meio. Torna-se o centro das atenções, com colegas muito solícitos e existindo um predomínio de tom maternal assistencialista para com ele.

A leitura não é desastrosa, uma vez que no final da história Pedro já fez muitos amigos, ele os ensina a linguagem dos sinais, assim como a professora também faz uso de libras. É um livro que pode ser utilizado em sala de aula, sendo um instrumento, melhor dizendo, um estímulo e ponto de partida para uma reflexão que nos auxilie a desconstruir a frequente aquisição de opiniões formadas e noções concedidas sobre qualquer lugar, coisa ou circunstância, abarrotadas de julgamentos pré-estabelecidos. Pedro é está inserido no caso de uma única história sobre a deficiência. Chimamanda Adichie em sua palestra “O perigo da única história”, dá mais clareza sobre o conceito de uma única história: interpretar algo como uma coisa, como apenas uma coisa, repetidamente, e será o que esse algo se tornará. A única história é criadora dos famosos estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história converter-se à única história. A consequência de uma única historia é essa: ela subtrai para si a dignidade das pessoas. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil. Dá ênfase de como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes. Pedro foi concebido como uma pessoa semelhante às outras e, com sua surdez, passa a ser tratado como alguém diferente delas, excluso, mas ao mesmo tempo encaixado em uma inclusão. Ele foi apenas um exemplo de muitos espalhados pela sociedade que resultam de uma opinião demasiadamente simplificada, porém real e sobressalente, que apresenta a desigualdade existente entre os deficientes e os não deficientes.

Nonname
Enviado por Nonname em 29/05/2017
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