Resenha do texto: Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna de Ângela Kleiman (2007)

A partir da leitura do texto de Kleiman (2007), é possível destacar alguns tópicos considerados relevantes para discutir o letramento em sala de aula no que tange à importância do seu conceito ao papel do professor, ao currículo e às atividades em si. No artigo, a autora discute a relevância do conceito de letramento para o ensino e a aprendizagem de língua materna em todos os ciclos do ensino fundamental e médio, argumenta contra a dicotomia que limita a relevância dos estudos de letramento à prática de alfabetização. Apontando a escola como a principal agência de letramento da nossa sociedade e como fator decisivo na promoção do letramento, a autora apresenta exemplos de organizações curriculares centradas em conteúdos linguístico-enunciativo-discursivos ou em projetos de letramento, a partir de experiências de formação, realizadas com turmas do ciclo fundamental e médio, e discute suas respectivas implicações. De modo a aferir que, o ambiente escolar seria o responsável por criar espaços para a inserção dos múltiplos letramentos, a partir de práticas sociais letradas a fim de situar o aluno à realidade em que ele está inserido, através de textos que sejam significativos tanto para ele, quanto para sua comunidade. Isto implicaria dizer que, a prática social não seria apenas o ponto de partida, mas também o ponto de chegada para a apreensão dos conteúdos, que se configuram por meio dos eventos de letramento. Partindo deste ponto, a autora indica uma pergunta estruturante para o planejamento de aulas que fujam dos padrões, que se encontram centrados nos conteúdos curriculares: “qual a sequência didática mais adequada de apresentação dos conteúdos?”. E admite assim que, o conteúdo não deve ser entendido como o princípio organizador das atividades curriculares, e sim deve-se partir da prática social para o conteúdo, uma vez que ele representa os comportamentos, procedimentos e conceitos que se visa desenvolver no aluno.

Ao compreender que as atividades de leitura e escrita não são neutras, mas sim um conjunto dessas práticas socialmente desenvolvidas que levam o indivíduo a reforçar ou questionar valores, tradições, padrões de poder da sociedade, reforça a ideia de que o letramento é um fenômeno que envolve os saberes que estão presentes nos contextos sociais de leitura e escrita do aluno. E então, surge outro questionamento de ordem sócio histórica e cultural: “quais os textos significativos para o aluno e sua comunidade?”. Essa perspectiva depreende que o letramento deve ser feito por meio de textos que sejam representativos das atividades comunicativas dos indivíduos a fim de desapropriar essas atividades repetitivas e mecânicas, elaboradas fundamentalmente, de maneira artificial, para o ensino e passando a tomar o aprendizado como algo significativo e necessário, uma vez que os alunos estão aprendendo vivenciando a língua em uso.

A partir dos exemplos citados pela autora, fica claro que os desafios de implementar essas práticas sociais como princípio organizador do ensino através de atividades que representem uma significação social e situada do aluno, é um exercício complexo, pois não depende apenas do professor, uma vez que elas alteram a lógica tradicional de organização dos conhecimentos. O trabalho deve ser coletivo, para que o aluno consiga vencer os obstáculos que essa inserção de textos que circulam em sua vida social pode trazer.

Por fim, Kleiman (2007) examina as implicações da abordagem do letramento para a formação do professor. Dentro desse conjunto, uma questão relevante para a formação do professor, seria a delimitação de quais os conhecimentos especializados que possibilitam uma ação significativa na aula de leitura e produção de textos em língua materna? Em outras palavras, quais são os saberes linguísticos relevantes para a atuação profissional, para o local de trabalho?. O processo de letramento na formação do professor de língua inclui a especificidade da matéria pela qual será responsável na escola. Mas não apenas isso, inclui também a ressignificação dos modelos formadores, que corresponde a um perfil de agente social, que será capaz de articular os interesses partilhados pelos alunos, organizar ações coletivas, além de auxiliar nas tomadas decisões sobre determinados cursos de ação, interagir com os outros agentes sociais e acima de tudo, reestruturar seus planos de ação segundo as necessidades encontradas nos grupos. Isso implica, da perspectiva do ensino, que é relevante, na formação do professor, a capacidade de atualizar, com base na prática social, seus conhecimentos sobre o funcionamento dos gêneros como elementos orientadores da prática de produção textual dos seus alunos.

Ao apresentar exemplos de práticas ou eventos de letramento, Kleiman (2007) possibilita ao leitor visualizar diversas formas de transpor para a prática o que prega o conceito de letramento.

Sabrina Arrais
Enviado por Sabrina Arrais em 17/05/2017
Código do texto: T6002054
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