O farol de Virginia Woolf


Resenha do romance “Rumo ao farol” (título original: To the lighthouse), de Virginia Woolf. Tradução: Luiza Lobo. Publicação original inglesa de 1927. Edição brasileira da Folha de São Paulo (Biblioteca Folha, 9).

Existia uma peça intitulada “Quem tem medo de Virginia Woolf?”. Nunca assisti e, como também jamais lera esta autora britânica, não imaginava o motivo de tal pergunta. Agora já sei. Se este romance é típico de seu estilo, a impressão que me deu foi de um texto paulificante, cansativo.

A rigor nada acontece na história. A família Ramsay está passando tempos numa propriedade nas Ilhas Hébridas (Escócia), pouco antes da guerra de 1914-1918. O casal e uma porção de filhos. Recebem hóspedes, também. O filho mais novo quer ir na ilha onde existe um farol. A mãe — de quem se diz que, aos 50 anos, é extremamente bonita — planeja levar presentes para os moradores do farol. Mas afinal ninguém vai por causa do tempo. Tudo isso porém é narrado através do ponto de vista subjetivo dos diversos personagens, como a pintora ou a Sra. Ramsey. O Sr. Ramsey é apresentado como temperamental e tirânico, mas quase nada fala ao longo do livro. E o tempo real da narrativa é esticado surrealmente pela maneira como em poucos minutos ou segundos os personagens pensam e esmiuçam coisas sem conta, em geral irrelevantes.

Na sequência a guerra já acabou e os poucos sobreviventes ainda disponíveis voltam ao solar e finalmente apenas cinco pessoas realizam a viagem até ao farol.

Essa habilidade de contar milhões de coisas que nada somam (a não ser que valha como estudo psicológico, mas não sei se vale a pena) perpassa o livro inteiro. Vejamos este trecho na página 57:

“O raio do seu olhar, paralelo ao do Sr. Bankes, dirigia-se à Sra. Ramsay, que, sentada, lia para James, próximo a seus joelhos. Mas agora, enquanto ela ainda a olhava, o Sr. Bankes já não o fazia. Colocara os óculos. Recuara um passo. Erguera a mão. Franzira levemente os claros olhos azuis, enquanto Lily, recobrando-se, viu o que ele fazia e estremeceu, como um cachorro vendo alguém erguendo a mão para lhe bater. Teria arrancado o quadro do cavalete, mas disse consigo mesma: isso é necessário. Endireitou-se para suportar a terrível provação de ver alguém olhando o seu quadro (sic). É necessário, disse, é necessário. E se devia ser visto, era-lhe menos alarmante que o fosse pelo Sr. Bankes antes de qualquer outra pessoa.”

São essas miudezas irrelevantes que se arrastam pelo livro inteiro. Foi preciso paciência para ler tudo. Bem, acredito que existem apreciadores dessa ficção introspectiva. Para quem gosta, o livro é de fato um prato cheio.



Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2017.