O menino do pijama listrado: a sabedoria da simplicidade

Breve, conciso, estruturado e de sugestão precisa. Estes sem dúvida são adjetivos que demonstram o perfil do mais famoso livro de John Boyne. “O Menino do Pijama Listrado”, uma obra escrita em exatos dois dias e meio, ilustra a terrível realidade dos campos de concentração nazistas a partir do inusitado olhar de um garoto alemão de apenas 9 anos, que vive o maior drama de sua vida ao ser obrigado a mudar da magnífica casa em Berlim, para um lugar no qual todas as esperanças terão de ser mudadas, em função do novo cargo dado pelo “Fúria” ao seu pai. Ali encurralado pelas circunstâncias, Bruno, tem de lidar com dilemas a respeito dos mistérios que rondam o campo a frente de seu novo lar, no qual pessoas estranhas parecem conviver sob a supervisão dos soldados comandados por seu pai. Porém, nesse ínterim, Bruno, descobre amizade de Shmuel, outro menino que nascera no mesmo dia que ele, e que, a seu ver, tem uma história parecida com a sua, a não ser pelo fato dele estar do outro lado da cerca. E é dessa a amizade que um incrível relato se desenha. Tudo isso em menos de 200 páginas.

Entretanto, além do fascinante enredo, o livro revela ao leitor, algo além da ameaça constante da realidade a sincera amizade infantil, a obra de Boyne, mostra a sabedoria que há nas mais simples ideias. Ao passar, juntamente com Bruno, o dia-a-dia de sua indesejada empreitada, o autor leva o leitor a tentar solucionar diversos problemas morais e éticos através da tênue mente do menino alemão, o qual dentre todas as regras que lhe são impostas e todos os porquês não devidamente endossados, às vezes vê somente na desobediência a possibilidade de realização de suas vontades (diversão); o que, diga-se de passagem, não está muito longe dos paradoxos que qualquer ser humano enfrenta. Todos crescem diante de vários paradigmas: preceitos familiares, morais religiosas, superstições, regras de trânsito, uniformes. Ninguém na sociedade contemporânea está isento, destes ou de quaisquer outros modelos de vida. É justamente esse conflito que o livro aborda: se há tantas regras por que a convivência é tão complexa, se todos devem se submeter a elas? A resolução dada só poderia ser trazida por um menino: porque as regras não se aplicam aos adultos.

Um exemplo relatado constantemente na obra é o fato de apesar dos pais de Bruno lhe ensinarem a não interromper aos outros durante suas falas, eles mesmos se interrompem, não somente entre si, mas também às demais pessoas e também ao próprio Bruno. Atitudes que, com certeza, causam confusões. Em outras palavras, se todos respeitassem aquilo que dizem talvez, os conflitos fossem amenizados. Essa solução é parafraseada nos diálogos em entre os dois meninos, que todas as vezes que conversam a respeito de algum assunto aparentemente polêmico, tentam se expressar ou omitir palavras a fim de não constranger o amigo, pois o consideram importante.

Logo, uma das lições que podem ser tiradas desse pequeno livro, é tão simples quanto sábia: se as pessoas não fossem tão maduras a ponto de desprezar os simples preceitos de convivência, ninguém teria de enfrentar guerras diárias. Ou seja, a maturidade nos faz, por vezes, ignorantes.

Rodrigo Leme de Oliveira
Enviado por Rodrigo Leme de Oliveira em 17/01/2017
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