Resenha Crítica do terceiro capítulo de PEDAGOGIA DA AUTONOMIA.

PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

Paulo Freire.

Capítulo terceiro - Ensinar é uma especificidade humana.

Paulo Reglus Neves Freire, ou como era popularmente conhecido Paulo Freire, (1921 - 1997) foi um, pedagogo e filósofo e educador brasileiro. Doutor Honoris Causa por 27 universidades, Freire recebeu prêmios como: Educação para a Paz (das Nações Unidas, 1986) e Educador dos Continentes (da Organização dos Estados Americanos, 1992). É considerado um dos pensadores mais referenciados na história da Pedagogia mundial. Pedagogia da autonomia da autoria do mesmo foi lançada em 1996, a última obra do autor publicada em vida.

Antes mesmo de por em destaque os principais aspectos da obra é importante salvaguardar a forma como Freire a organizou. Foram postos sete subtítulos que apoiavam brevemente em suas nomeações o próprio ato do ensino e as diversas faces e formas deste objetivo fundamental para a existência e manutenção da educação. Desta forma, ao longo do capítulo e suas subdivisões depara-se com as novas definições e significações pertencentes ou que devem ser somadas à ação do ensinar. O autor inicia este curto capítulo abordando a segurança em si mesma como umas das qualidades mais essenciais que a autoridade docente democrática deve possuir. Esta segurança pauta-se precisamente na postura do docente enquanto indivíduo que preza a direta relação com os alunos em questão, ao mesmo tempo em que estabelece este convívio saudável e liberto de uma autoridade ‘’autoritária’’ por parte do educador. A legitimidade da segurança em si, proveniente do professor que possui uma autoridade democrática reserva àqueles que a utiliza, um espaço de firmeza e saber de existência em si mesmos, situados nos conjuntos do conhecimento e sabedoria. Em outras palavras as relações que o docente diante do contexto educacional, irá construir serão baseadas no emprego de virtudes como o uso do respeito e da responsabilidade. A segurança ressaltada por Freire está intrinsecamente ligada à competência profissional do professor que deve se incumbir ao máximo no exercício da educação própria, elaborando práticas de estudos para uma efetiva e competente formação que resulta no desenvolvimento contributivo para ato do ensino. O que não significa expressar que para ser um bom professor é preciso possuir uma gama de conhecimentos científicos. Uma relevância que por qualquer leitor pode ser notória diante da leitura deste capítulo do livro, é a forma humilde utilizada por Freire tanto no momento da escrita quanto ao ressaltar virtudes básicas para um boa harmonia na sociedade como por exemplo a respeito e a captação pelo que é produzido por outrem, sempre adotando esta postura humanizada, o autor de Pedagogia do Oprimido possui grandes títulos não à toa. Outra qualidade citada pelo autor é a generosidade que como a segurança e competência profissional deve estar associada ao exercício da autoridade e liberdade. O que faz com que o docente não se caracterize como o profissional rígido, possuidor de uma ‘’ arrogância farisaica, malvada’’, é justamente esta prática altruísta sendo associada ao plano comportamental do indivíduo- professor. Preocupado com o modo como serão realizadas as práticas pedagógicas, Freire energicamente critica interações arrogantes muitas vezes frequentes por parte do docente no contexto da sala de aula, salientando a ação generosa como ponto mediador para o estabelecimento de um: [...] ‘’ clima de respeito que nasce em relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente. ’’ [...] (p.56-57.) Desta maneira, entende-se que a prática educativa deve se desassociar totalmente da postura Mandonista, caracterizada na obra como a prática irrefreável e desmedida do mando que possui como centro investido o próprio aluno que ao deparar-se com um tipo de autoridade que se porta de forma rígida, se desvincula automaticamente dos hábitos criativos e produtivos, o que denuncia a escassez e minimização da liberdade e ações não democráticas por parte do docente. A autoridade coerentemente democrática defendida por Paulo Freire acima de muitas outras conceituações é aquela que prioriza veementemente a liberdade como uma ‘’devoção’’ do profissional que tem como objetivo a construção de educandos críticos a provar do despertar para o conhecimento. De acordo com o autor é com a autonomia da autoridade democrática que surgem praticamente todas as virtudes ou qualidades citadas acima. A autonomia docente democrática que se desprende do tradicionalismo escolar e ganha vida ao se desenvolver através de uma responsabilidade da liberdade de ensino. Esta liberdade como fator principal no ato educacional contribui para a extensão e ‘’atentamento’’, digamos assim, da colocação dos conteúdos para uma formação ética nos educandos, isto é, a ressignificação assumida pela educação, a qual se desprende do papel fixo da escola e avança ao que está além da instituição fechada por paredes. Mais do que a modificação e fornecimento de novos conhecimentos para os alunos que se ali se encontram, a educação fornece aos que dela ‘’bebem’’ suportes necessários para o levante das conjunturas políticas e interventoras da sociedade. O testemunho próprio ético do professor e a amostra auxiliar de visões que fornecem suportes para uma autoridade a serviço de atos livres geradores de uma disposição que provoque diretamente o aluno na questão das indagações e críticas perante inúmeras reflexões e provocações geradas pelo orientador em busca de instigar as razões questionadoras nos próprios indivíduos aprendizes, configuram uma nova sensibilidade no docente em questão devida a reflexão que implica na exclusão do silencio e tão somente a existência do aluno como receptor de informações. A questão do respeito é levantada pelo autor que frisa a importância na luta pela existência deste efeito considerativo que muita das vezes independe do tratamento das instituições aos professores. O respeito que o professor deve fornecer aos educandos de acordo com Freire, tem haver com o comprometimento deste e seu envolvimento respeitoso com a sua profissão, o que remete a uma legitima verdade, sem duplas faces, em toda a atuação do professorado, dando certa valorização para a identidade do mesmo e a proximidade deste com as percepções exteriores. A leitura que os alunos fazem do professor é um direito que pelo professor deve ser concedido. A leitura interpretativa que o professor faz dos alunos só será possível quando os espaços para atitudes não elitistas e não reacionárias serem preenchidos pelas formas progressivas democráticas que inserem neste contexto de ensino-aprendizagem a permissão para a presença politica, haja vista que o professor deve: [...] ‘’revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho. ’’ (p.60-61). Dentre os vários poderes próprios da educação como um bem substancial, é o de traçar novos e positivos impactos no meio social. Quando Paulo freire trata da questão da educação enquanto forma de intervenção no mundo, ele nada mais que expressar que os meios e instituições que prezam ou geram a ação do educar, possuem o poder e dever de retirar a interpretação que muitos postulam ao ato, muitas vezes interpretado como tão somente o meio para reprodução de ideologias dominante ou o desmascaramento destas. A prática crítico-educativa de Paulo freire diante das massas dominantes que possuem conhecimento a acerca da força que a educação possui para transformar os indivíduos em ‘’soldados’’ críticos embasados de consciência histórica social, vai na contra mão do que na maioria das vezes é nos imposto.

[...] ‘’ Do ponto de vista dos interesses dominantes, não há dúvida de que a educação deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades. ’’(p. 61).

A relação entre liberdade e autoridade para uma sociedade que classifica estas duas posturas de comportamento como rivais, em um dado momento é abordada por Freire que aponta sua predileção pelo exercício de ambas, sendo o mesmo ato realizado de forma conjunta. A questão da presença e comportamento do docente diante do contexto educacional em si, o que nos permite o olhar voltado para o cotidiano em sala de aula é interpretada pelo autor como uma ação que deve se medida, se não pautada, juntamente com a prática da liberdade e autoridade sendo que ao tempo em que a liberdade permitirá ao professor, processar o desenvolvimento dos alunos no que se refere as próprias decisões deste, o fazer experimental através de leituras individuais de mundo que o mesmo aluno irá construir por meio de suas visões críticas, a autoridade estará presente no fazer docente democrático não parar ditar uma suposta coerência ou sublinhar os supostos erros cometidos pelos educandos apontando uma outra forma de construir a resolução correta para determinada atividade ou programação, salutar é compreender que a autoridade que o professor deve possuir em relação ao ensino é justamente o direito que auxilia o docente em questão a instigar no aluno determinado comprometimento ético em busca do conhecimento, ou seja, um suporte que auxiliará estas duas figuras centrais, no que se refere aos deveres e responsabilidades pertencentes a ambos enquanto indivíduos que compartilham o mesmo ambiente educacional. Para tal ação, no capítulo é mencionada de forma comparativa a relação entre pais e filhos e como deve funcionar a atuação da autoridade e seu funcionamento no contexto familiar. No item 3.4 denominado, Ensinar exige liberdade e autoridade, Paulo Freire formula que para não haver desequilíbrio na relação professor aluno, a autoridade do orientador deve ser exercida sem autoritarismo e com a adição de energia, estabilidade e disciplina. Ao abordar o papel dos pais na educação dos filhos, quanto a liberdade e escolhas, o filosofo enfatiza a necessidade da participação dos pais na construção e preparação dos filhos como cidadãos, sendo um dever auxiliar no processo destes na decisão dos filhos apenas no sentido de encaminha-los aos possíveis consequências de sua decisões. Bem mais do que um poder que determina o certo e o errado, predispondo a subordinação feita da autoridade para a pessoa em preparação, dentro do plano educacional democrático a utilização da liberdade e funciona juntamente com a ação da autoridade. O final deste capítulo abriga a reunião de todos os comprometimentos, deveres e ações que o ensino democrático implica tanto nos docentes quanto nos educandos. Sobretudo Paulo Freire invoca a dimensão afetiva presente nas relações que envolvem o seio educacional nada mais que o querer somado à paixão pela educação capacitam o profissional a ser um indivíduo entregue ao prazer por educar o que está ligado às ações pedagógicas benéficas e a própria questão do respeito, pelo qual a mesma deve ser manuseada. Como participantes no contexto do ensino, virtudes tais como afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico, todas sendo instauradas no contexto da educação fazem funcionar a ação libertadora o que permite a autonomia de cada uma das partes envolvidas. O comportamento ético seguido por uma disciplina neste mesmo âmbito não deixa de se fazer presente, justamente pelo fato de que a afetividade proporcionará o direito a maior liberdade nas relações juntamente com a vontade de apreender o conhecimento, através de uma nova forma de faze-lo. O que permite ao aluno a ousadia a novos passos, traçando sua própria história, o que se revela um ato histórico jamais esquecido. O terceiro capítulo em sua mais profunda essência busca evidenciar os desafios reservados aos que escolheram a educação em ambas as vertentes, tanto a profissional quanto a existencial. Paulo Freire, grande educador, possui uma pedagogia considerada como síntese que rege o conceito de educação popular, humanizada e conscientizada, porque traz a consideração de que a superação de modelos prontos devem ser eliminados do contexto de ensino através da condução à novas formas de análise da realidade social produzindo desta maneira a indicação de propostas de mudanças saudáveis para a educação.

Mirela Lourdes
Enviado por Mirela Lourdes em 19/10/2016
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