Currículo e formação humana: racionalidade e adaptação

SILVA, Mônica Ribeiro. Currículo e Competências. Currículo e formação humana: racionalidade e adaptação, Cap.1. Ed. Cortez. Págs. 23 – 32.

RESENHA

Dentro da análise sobre escola e currículo, a educação é o meio pelo qual os homens são igualados, através da apropriação da cultura, mas, ao mesmo tempo, esta os diferencia ao ser permeada pelas condições subjetivas que envolvem a realização social e individual de cada sujeito, e que são atribuídas à educação. A educação passa a valorizar seres adaptáveis às necessidades sociais e, por conseqüência, menos críticos, autônomos e livres.

Desta forma, a escola passa a ser organizada através de objetivos, metas e finalidades predeterminados, visando atender à demanda social. Tal definição prévia de objetivos submete o indivíduo a uma prática educacional controladora que compromete sua formação e gera uma semiformação cultural.

No sistema capitalista, onde a formação humana volta-se, predominantemente, para a geração de mão-de-obra para os meios de produção, evidencia-se tal fato. Como conseqüência ocorre não apenas a perda da auto-reflexão crítica, mas automaticamente, a percepção de sua própria condição de semiformação cultural.

O indivíduo se vê obrigado a adaptar-se às imposições sociais e termina perdendo a capacidade de interagir com o mundo reflexiva e autonomamente, sem a exigência da racionalidade que o leva à visão da eficiência para o lucro.

A educação vem mediar esta relação com instrumentos que incorporam essa idéia social, um deles é o currículo. É o exemplo da cultura escolarizada, que explicita os conteúdos que são priorizados ou rejeitados por determinada cultura e quais os critérios culturais utilizados em tais escolhas, colocando-se entre a escola e a cultura.

No início do século XX, visava-se adaptar a escolarização ao contexto da educação de massas, devido às mudanças de ordem econômica, política e cultural que estavam ocorrendo. Bobbit, no livro The curriculum, defendia a idéia de uma escola que especificasse resultados e objetivos, visando atender às demandas de uma formação prevista pelo mercado de trabalho.

Paralelamente a ele, Dewey propunha considerar as experiências e o empírico dos alunos, defendendo uma escola que se ocupasse mais em formar para a democracia que para o mercado, porém a perspectiva de Bobbit prevaleceria.

O currículo passa a ter uma dimensão que visava a eficiência social e se perpetua após os anos 60, nas noções centrais do modelo de Tyler, orientado por quatro pontos principais: os objetivos educacionais, as experiências ofertadas para alcançar tais objetivos, a organização destas experiências e a certificação do alcance dos objetivos.

Ao mesmo tempo em que se consolidava este modelo de educação, intitulada Pedagogia por Objetivos, foi se estruturando a crítica a seus pressupostos e métodos, mostrando que a organização curricular estava além dessa dimensão técnica e instrumental.

O marxismo traz a discussão mostrando que os vínculos entre economia e educação não são determinados, mas construídos, criados no interior das escolas, mediadas nas práticas concretas dos educadores e teve respaldo na análise de Apple sobre o currículo oculto. Evidenciam-se, assim, as demais dimensões do currículo: prescritiva, que define intenções e conteúdos; real, materialização por meio das práticas e o currículo oculto, surgido das relações interpessoais entre educandos e educadores.

Porém, o currículo também serviu para a análise de Willis, em 1991, da procura dos jovens da classe operária por atividades dessa mesma classe como não tendo razões relacionadas à condição econômica e sim a uma destinação criada culturalmente e, desta forma, podendo ser focada na resistência e não na subordinação. Adorno (1995) defenderia esta idéia afirmando que a escola teria muito mais a tarefa de fortalecimento dessa resistência do que da adaptação.

Isto abriu novos conceitos sobre o papel da escola como agente de reprodução social e cultural, tornando-se fundamental discutir como as relações de poder e dominação vão se institucionalizando, a exemplo do instinto de competitividade que contraria a educação humana, segundo Adorno (1995).

Podemos certificar, sem sombra de dúvidas, que a escola engloba uma série de contradições que permeiam a sociedade, permitindo considerar que ela não esteja totalmente à mercê dos interesses do Estado, havendo uma série de mediações interpostas entre elas.

Gaby Faval
Enviado por Gaby Faval em 29/09/2016
Código do texto: T5776132
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