Armadilhas do destino: "Grandes esperanças"

ARMADILHAS DO DESTINO: GRANDES ESPERANÇAS
Miguel Carqueija


Resenha do filme “Grandes esperanças” (Great espectations). Reino Unido, 1946. Produção: Ronald Neame. Produção executiva: Anthony Haveloch-Allan. Direção: David Lean. Adaptação feita por estes e Kay Walsh e Cecil Mc Grown, do romance homônimo de Charles Dickens. Fotografia: Guy Green. Música composta e conduzida por Waltyer Goehr; execução pela The National Symphony Orchestra.

“Minha admiração por ela não tinha limites e não passava uma noite sem que eu dormisse com a imagem do seu belo rosto.”
(Pip)

“Todos os trapaceiros da Terra trapaceiam a si mesmos.”
(Pip)

Quem conhece os textos de Charles Dickens, esse nobre autor britânico do século XIX, sabe que são tocantes e maravilhosos: “O avarento”, “História de duas cidades”, “David Copperfield” etc. “Grandes esperanças” é um livro grandioso — sem trocadilho com o título — e esta adaptação é sóbria e respeitosa, além de envolvente. O roteiro a cinco mãos (os próprios produtores e o diretor participaram) logrou uma síntese feliz da obra, que conta o drama do jovem Pip desde o tempo em que era um garoto pobre, órfão e criado pelos tios. A cena de abertura, com a bela fotografia em preto-e-branco de Guy Green, chega a ser antológica, com o menino de uns onze anos visitando o túmulo de sua mãe, numa charneca nebulosa, e sendo assustadoramente abordado por um homem mal-encarado e enorme, que o ameaça para que ele lhe traga comida e uma faca. Tendo dado a sua palavra, o amedrontado Pip irá se desencumbir do compromisso, às escondidas do tio Joe e sua esposa. Este incidente trará graves consequências no futuro.
O outro fator determinante da história é o inesperado convite feito a Pip através de seus tutores, por uma certa Senhora Havishan (Martita Hunt), rica e excêntrica. Ela queria o menino para brincar com sua pupila Estella, ainda que Pip não soubesse brincar. É envolvente a maneira como o menino se impressiona e se enamora daquela garota orgulhosa e fria que o chama desdenhosamente de “boy”. Certa vez Estella o esbofeteia; outra, manda que ele a beije na face. Mas o caminho do amor pode ser longo e tortuoso.
Nos anos que se seguem Pip torna-se adulto, perde Estella de vista, reencontra-a ainda desdenhosa, torna-se beneficiário de um mecenas anônimo e misterioso e descobre a estranha verdade sobre a Sra. Havishan, pessoa traumatizada por uma passado cruel e que criara Estella apenas para ensiná-la a maltratar os homens.
Apesar de algumas deficiências (como a utilização do ator John Mills, bem mais velho que o personagem) “Grandes esperanças” é uma fiel adaptação do saboroso livro de Charles Dickens e conta com ótimo trabalho de produção, direção, roteiro, fotografia, e excelentes interpretações.
ELENCO:

Pip.............................................................John Mills
Pip em menino..........................................Anthony Wager
Estella........................................................Valerie Robson
Estella, menina..........................................Jean Simmons
Joe Gargery................................................Bernard Miles
Dr. Jaggers..................................................Francis L. Sullivan
Abel Magwitch...........................................Finlay Currie
Sra. Havishan.............................................Martita Hunt
Herbert Pocket..........................................Alec Guiness
Sra. Gargery...............................................Freda jackson
Sr. Wermmich............................................Ivor Barnard
Biddy..........................................................Eileen Erskine

Rio de Janeiro, 22 a 26/10/2016.