Os fantasmas também amam

OS FANTASMAS TAMBÉM AMAM
Miguel Carqueija


Resenha do filme “O fantasma da ópera” (Universal, Estados Unidos, 1926). Produção: Carl Laemmle. Direção: Rupert Julian. Adaptaão do romance do escritor francês Gaston Leroux. Título original: “The phantom of the opera”. Preto-e-branco, 95 minutos.


Marcante expressão do cinema mudo de terror, “O fantasma da ópera” baseia-se em célebre romance de autor francês e se ressente da interpretaçãp exagerada dos filmes mudos, já que não havia o recurso da entonação de voz. De vez em quando escuta-se uma voz de cantora lírica, certamente um acréscimo posterior.
O clima, desde as primeiras cenas, é extremamente sombrio. Tudo gira em torno do Paris Opera House, onde os artistas convivem com a lenda assustadora de um fantasma de horrível aspecto que assombra o local e é por vezes entrevisto. Acontece que o teatro tem passagens secretas, porões esquecidos e misteriosos que se prolongam pelas profundezas. Aó fica o reduto do personagem enigmático que se oculta nas trevas e nos recônditos da ópera. Por fim ele se apaixona por uma das cantoras, Christina Daaé, e começa a se comunicar com ela através das paredes. É curioso que ela aceite orientações de um mestre invisível, sem imaginar o quanto ele é possessivo.
Chega a causar pena a situação de Erik, o Fantasma da Ópera, um excluído da sociedade, seja pelo seu passado criminoso, que é revelado “en passant”, seja pela sua feiúra extrema; a interpretação de Lon Chaney é muito boa dentro das limitações do cinema mudo.
Infelizmente, como a maior parte dos diálogos possíveis não é revelada (as interrupções para as legendas não podem ser excessivas) a trama acaba mal explicada. Não se sabe por que o teatro de ópera tinha tantos subterrâneos e tão profundos, além do mais esquecidos e desconhecidos; de onde vinha a luz, pois tudo deveria estar às escuras; e como Erik podia ter suas acomodações, com cama e tudo e até um cavalo. No livro de Gaston Leroux, que não tive ocasião de ler, devem existir explicações que a película não mostra.
É um filme muito triste. Erik chega a declarar que o amor de Christine poderia redimi-la. Mas a história não se encaminha para isso, embora pudesse. A trama é impiedosa e se dirige para um desfecho trágico e brusco — um final abrupto, até tosco.

Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2017.