Sailor Moon Clássica 24: tragédia

SAILOR MOON CLÁSSICA 24: TRAGÉDIA
Miguel Carqueija


GUIA DE EPISÓDIOS
Num dos mais emocionantes e trágicos episódios do seriado “Sailor Moon” dos anos 90 (há dois seriados posteriores) Neflite, até então general do Negaverso ou Reino Escuro, tocado pelo amor cândido de Naru terá de tomar a decisão crucial da sua vida: quando a vida de Naru corre perigo, sequestrada por Zyocite e suas malignas, irá Neflite salvá-la ou deixá-la à mercê das inimigas? Pode alguém que pertence ao Reino Escuro se importar com uma garota humana? Ainda mais agora que Neflite obteve um trunfo contra Sailor Moon, ao descobrir sua identidade, isto é, que Sailor Moon é a colega de Naru, Serena (Usagi Tsukino)?
Zyocite, além de inimiga de Neflite dentro do Reino Escuro, cobiça o cristal negro, que Neflite materializou com sua mentalização do Cosmos. O poder do cristal negro é uma arma que Zyocite ambiciona. Para obrigar Neflite a entregá-lo ela sequestra Naru, contando que o outro tentará resgatar a menina...


Resenha do episódio 24 – “Neflite morre por Naru” – do seriado de tv “Bishojo senshi Sailor Moon” ou “Pretty Guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon) – Toei, Japão, 1992. Produção executiva: Iriyma Azuna. Produção e direção: Junichi Sato. Roteiro: Yoshiyuki Tomita. História original de Naoko Takeushi.
Elenco original de dublagem:
Usagi Tsukino (Serena, Sailor Moon).................Kotomo Mitsuishi
Tuxedo Kamen (Darien, Mamoru Chiba)...........Toru Furuya 
Luna....................................................................Keiko Han
Ami Mizuno (Sailor Mercúrio)..............................Aya Hisakawa
Hino Rei (Sailor Marte) .......................................Michie Tomizawa
Nephryte (Neflite)................................................Katsuji Mori
Zyocite..................................................................Keiichi Nanba
Naru Osaka (Molly).............................................Shino Kakihuma



“Quem pensa que as garotas não podem evitar de se apaixonar? Elas sabem que isso poderá lhes custar caro, mas elas preferem acreditar no amor, sem se importar com o que possa lhes acontecer! Deixem os namorados em paz!”
(Sailor Moon)

“No grupo perverso ao qual pertenço não há lugar para o amor. Nos traímos uns aos outros e matamos as pessoas para nosso benefício.”
(Neflite)

“Por que torturam as pessoas que se amam? Será que vocês nunca se apaixonaram?”
(Sailor Moon)

“Aconselho que se arrependam de todas as suas maldades!”
(Sailor Mercúrio)


Neflite é um personagem que reúne poder, arrogância, maldade e esperteza. Com base nessa esperteza fez algumas deduções esclarecedoras. Naru (personagem que na dublagem brasileira, reflexo da norte-americana, virou Molly, que não é nome japonês) o amava espontaneamente, e de maneira muito pura e terna. O próprio cristal negro reagia diante da presença da ingênua adolescente. Neflite sente-se perturbado, mas procura não pensar nisso. Afinal, ele é mau e não acredita ou não quer acreditar no amor. Então ele dirige o seu raciocínio para outro ponto: Sailor Moon sabia quem era a Naru, sabia o seu nome no incidente do episódio anterior. Neflite então calcula que Naru deve conhecer a identidade de Sailor Moon. Procura por ela e lhe pergunta, mas a menina nega saber quem é Sailor Moon, como de fato ignora. Mas como logo em seguida Neflite ouve Naru ligar para Serena, deduz que esta é a guerreira, e consegue flagrar a transformação.
Mas o sequestro de Naru distrai Neflite de seus planos. Contrariando seus princípios malignos ele vai ao esconderijo onde a garota está presa e confronta as três “yumas” ou malignas que servem Zyocite e consegue libertar Naru, levando-a embora. Por insistência de Naru, ao ver que ele estava ferido, entram num parque deserto àquela hora da noite, e lá ela lhe faz um curativo. E os dois finalmente vivem a sua hora da verdade: finalmente Neflite se rende ao amor da menina quando ela o convida para um dia irem tomar um sorvete de chocolate. Infelizmente o idílio não pode durar: as yumas reaparecem e atacam de surpresa, conseguindo cravar uma enorme farpa em seu ombro, e pelo ferimento a energia de Neflite começa a se esvair.
É uma das cenas mais pungentes de um seriado de animação, e já foi comentado que até a dublagem funciona, transmitindo o desespero de Naru, que faz ingentes esforços para puxar a farpa para fora do corpo de seu amado. As malignas ao verem isso se dispõem a matar Naru, mas o cristal negro acaba surgindo, caindo da roupa de Neflite. A sinistra Zyocite aparece, apodera-se do cristal negro e vai embora, deixando às malignas a torpe tarefa de acabar com Naru e Neflite.
É nesse ponto que surgem as três guerreiras, repletas de indignação. As malignas atacam com seus golpes sobrenaturais, porém Sailor Moon, Sailor Marte e Sailor Mercúrio se esquivam ao ataque e contra-atacam com seus poderes, destruindo os demônios num abrir e fechar de olhos.
Mas nada podem fazer por Neflite. Por mais poderosas que elas sejam, as guerreiras do Amor e da Justiça não são capazes de deter a morte. A cena é extraordinariamente comovente. As palavras finais de Neflite são para Sailor Moon e para Naru. A Sailor Moon ele diz que sua identidade secreta estava salva (pois ele ia morrer). A Naru ele declara, conformado, que infelizmente não poderia aceitar o convite para tomar o “milk-shake” de chocolate. Naru não cessa de chorar e implorar que ele não morra. O agonizante Neflite ainda consegue falar: “Que bom ter conhecido você.” E em seguida morre.
Mas aos gritos doloridos de “Neflite, não morra! Não me deixe!” emitidos por Naru, o infortunado Neflite não pode retribuir nem com a permanência de seu cadáver. Como um “shittenou” ou agente de uma entidade sobrenatural maligna, sua morte não é igual à de um ser humano normal: seu corpo se desfaz numa espécie de névoa luminosa e borbulhante que vai se desvanecendo e afastando, levando a sua alma... e Naru, que estava em posição de joelhos, vendo que só restara a compressa que colocara no braço de seu amado, deixa-se tombar de rosto no chão, ainda gemendo: “Por que?” Ela, que é uma garota normal e sem poderes, e que não sabe nem compreende a luta mística que está sendo travada.
O mais belo em tudo isso, porém, é a atitude das três guerreiras que, guardando alguma distância respeitosa, a tudo assistem silenciosas, impotentes, estarrecidas, chocadas. Lágrimas lhes escorrem, as de Sailor Moon bem visíveis. E Sailor Moon chega a segurar os braços de Sailor Mercúrio, como a pedir apoio, as três sem ação diante do comovente sofrimento de sua amiga.
Esta é uma das sequências mais densas e antológicas do seriado.

Rio de Janeiro, 17 de julho de 2017.