A volta de Maxwell Smart

A VOLTA DE MAXWELL SMART
Miguel Carqueija


Resenha do filme “Agente 86, de novo?” (Get Smart again!) – Estados Unidos, 1989. Produção: Burt Nodella. Roteiro: Leonard B. Stern, Mark Curtiss e Rod Ash. Argumento e produção executiva: Leonard B. Stern. Direção: Gary Nelson. Criação: Mel Brooks e Buck Henry. Música: Peter Melnick. Tema musical: Irving Szathmary. Em memória de Ed Platt (o “Chefe” do Controle na série original)

Elenco:
Agente 86 (Maxwell Smart)........................................Don Adams
Agente 99...................................................................Barbara Feldon
Siegfried......................................................................Bernie Kopell
Agente Hymie..............................................................Dick Gautier
Agente Larrabie...........................................................Robert Karvelas
Shtarker.......................................................................King Moody
Agente 13....................................................................Dave Ketchum
Dr. Denton...................................................................Danny Goldman
Dr. Hottentot...............................................................Roger Price
Presidente dos Estados Unidos...................................Lou Felder
Lisa..............................................................................Rachelle Carson
Nicholas Dementi (chefe da Kaos)..............................Harold Gould
Comandante Drury.....................................................Kenneth Mars
Major Waterhouse.....................................................John De Lancie
Agente Beamish.........................................................Steve Levitt
Dr. Helmut Schmelding................................................Bernie Kopell

A série do Agente 86 (sátira aos filmes de espionagem) foi em sua época (1965 a 1970) uma das mais populares do cinema norte-americano, com seu humor irônico, constante e inocente, sem piadas sujas ou cenas lascivas, e felizmente esse clima limpo foi mantido na recriação feita 19 anos após, neste telefilme de longa-metragem (94 minutos). Há uma longa-metragem de cinema nesse meio tempo, “A bomba que desnuda”, de 1980, mas sem o mesmo charme até porque não aparece a Agente 99, complemento necessário ao desastrado 86. Porém a dupla reaparece neste “Get Smart again!” com os mesmos intérpretes Don Adams e Barbara Feldon, que apesar do tempo passado ainda se saem muito bem.
Don Adams é um ator que quase não ri e se mantém sério dizendo as maiores tolices; Barbara Feldon, no papel da agente sem nome conhecido — todo mundo a chama de 99 — faz uma excelente esposa de Smart (palavra inglesa que quer dizer “esperto”) e companheira de aventuras. Ela é fisicamente maior do que o marido e sua presença cênica nada fica a dever.
Neste telefilme, verdadeiro espetáculo de nostalgia, sentimos pena de a série ter acabado tanto tempo antes e (tirando fora o filme menos significativo de 1980) tantos anos se terem perdido em relação ao universo ficcional do “Controle”, uma agência secreta do governo norte-americano em constante guerra contra a organização maligna “Kaos”.
Na história, elaborada por Leonard Stern que foi um dos produtores originais, a Kaos reaparece chantageando o governo com a sua máquina de controlar o tempo, roubada ao cientista Dr. Hottentot. A Kaos exige 250 bilhões de dólares para não desencadear os piores efeitos climáticos sobre o país. O Serviço Secreto, chefiado pelo Comandante Drury, resolve trazer de volta à ativa o Agente 86, reativando também o Controle, fechado há 15 anos. Não estando mais vivo o “Chefe” é Maxwell Smart quem assume a chefia, e só consegue chamar de volta os agentes 13 (que sempre é colocado vigiando em locais estranhos, desta vez dentro de uma gaveta e depois num hidrante), Hymie (que é um robô de aparência humana), Larrabie e a 99.
Há cenas deliciosas no telefilme. Por exemplo, quando 86, 99, Beamish e o Dr. Schmeling (irmão gêmeo de Siegfried e interpretado pelo mesmo ator) são capturados no reduto da Kaos e Smart tenta blefar, dizendo ao chefão Dementi: “Fique sabendo que nesse momento o prédio está sendo cercado por 100 agentes federais com 50 cães policiais!” E como o outro não acreditasse ele tenta de novo: “E se eu disser que são 10 agentes federais com cinco “poodles”?
Também quando o cientista Hottentot, ferido a bala, agoniza, e fala em cigarro, Smart lhe diz: “Você não deve fumar, isso pode matá-lo!”
O tema musical insistente e que é o mesmo do velho seriado é igualmente delicioso. A piada da “sala do psiu”, variante do “cone do silêncio”, é de matar de rir, quando para evitar escutas o agente 86 e o Comandante Drury entram numa sala onde as palavras se transformam em letras, legendas, que ficam flutuando no ar e é preciso lê-las para saber o que o outro disse. Só que elas não desaparecem e o ar acaba ficando coalhado por uma profusão de frases, tornando a “conversação” inviável.
Há muitos motivos para rir nessa comédia de classe, bem produzida, dirigida, roteirizada e interpretada. E fica um sentimento de pena, saber que por 19 anos, com os intérpretes originais vivos e atuantes, a dupla 86-99 ficou sem aproveitamento.
Eu pensei em intitular essa resenha de “O último adeus de Maxwell Smart” parafraseando um livro de Conan Doyle onde aparece a última aventura do detetive inglês; se bem que, após a morte de Doyle, outros autores se encarregaram de criar mais histórias sherlockeanas. Mas afinal, após esse telefilme ainda houve um novo seriado em 1994, que durou pouco tempo, e uma refilmagem com outros atores em 2008.

Rio de Janeiro, 13 de julho de 2017.