Hipátia: a idealização do desencanto

ALEXANDRIA. Direção: Alejandro Amenábar. Flashstar Home Video, 2009. 1DVD (2h06min)

Neste texto, não se pretende abordar a veracidade de qualquer aspecto da vida da famosa filósofa e matemática Hipátia: trata-se de uma mulher notável sobre a qual se conhece muito pouco, uma vez que são raros os documentos sobre ela.

Assim sendo, esta resenha só explora a palavra do qual derivam todas as demais: o CONFLITO, que tem em sua volta inúmeros adjetivos: o religioso, o cultural (irracional versus racional, a fé contra a razão), o interno (o "eu" e o mundo), etc.

É sobre este último que se deseja fazer uma observação mais atenta: os conflitos internos aparecem no coração de dois homens que amam Hipátia- o prefeito Orestes e o escravo Davus.

No enredo do filme, a ideia romântica da exacerbação do sentimento amoroso desaba paulatinamente: o primeiro, homem poderoso que chega a dedicar uma música a Hipátia logo no início da narrativa, mostra-se impotente diante do colapso do local de onde era prefeito; o segundo, amando secretamente a filósofa, converte-se à nova religião e a sufoca antes da tragédia final. Em suma, nenhum dos dois a salva da morte violenta, causada por religiosos fanáticos.

O maior mérito do filme consiste em desconstruir aquele velho (?) binômio da "moça frágil e o herói", presente nos mais díspares contos de fadas (Chapeuzinho Vermelho e o caçador; as famosas princesas da Disney- Bela Adormecida, Branca de Neve, Cinderela e tantas outras com os seus respectivos príncipes salvadores) .

Em síntese, em Alexandria, não há heróis: são a própria impotência personificada em figuras masculinas. A mulher, embora bela, verdadeira e inteligente, mostra-se frágil diante de seu destino. Hipátia assassinada equivale a uma (real) tragédia de proporções inimagináveis: Branca de Neve e Aurora em sono eterno; Cinderela condenada a conviver com sua madrasta; Chapeuzinho Vermelho na boca do lobo.