2001: A Space Odyssey

“Continua visionário depois de todos estes anos.”

(Peter Bradshaw, The Guardian)

Considerado um dos melhores e mais influentes filmes já feitos, 2001: A Space Odyssey deixa muito a desejar para quem gosta de filmes com histórias “bonitas”, personagens simpáticos, muitas falas e finais felizes e/ou óbvios.

Baseado nas obras de Arthur C. Clarke, The Sentinel e 2001: A Space Odyssey e dirigido e produzido por Stanley Kubrick, o filme é dividido em 3 segmentos: The dawn of men, The Jupiter Mission e Jupiter and Beyond the Infinite.

No primeiro segmento nos são apresentados dois grupos de macacos que lutam por território. Certo dia aparece um objeto estranho entre eles, um monólito; a partir do contato de um dos grupos com tal objeto, eles desenvolvem novas habilidades (como utilizar ossos como ferramentas) e começam a evoluir. Ao final, este grupo “evoluído” de macacos vence a luta pelo território. Um do macacos joga um osso para cima e a cena é cortada para um satélite orbitando a terra. Um salto de milhões de anos.

Nesta segunda parte do primeiro segmento, Dr. Floyd viaja pra uma base na Lua onde um estranho objeto apareceu. Chegando lá, encontra um monólito idêntico ao que apareceu para os macacos na Terra. Quando ele e sua equipe aproximam-se do monólito para fotografá-lo, ouvem um barulho ensurdecedor e são obrigados a se retirar do local.

O segundo segmento - o mais longo do filme - começa 18 meses depois disso. Aqui acontece a “odisséia” de David Bowman rumo a Júpiter; outro monólito foi descoberto perto de uma de suas luas. Neste segmento começam a aparecer referências à Odisséia de Homero. Uma delas, talvez a mais clara (além do título), é o computador HAL, que comanda a nave. Este computador lembra muito Polifemo, o ciclope, criatura que aparece na obra de Homero e mata parte dos companheiros de Ulisses em sua jornada, exatamente o que HAL faz aos companheiros de Bowman no filme.

O próprio personagem de Bowman pode ser comparado a Ulisses, os dois sendo inteligentes, corajosos e com ótimas habilidades para resolver situações problemáticas. Bowman pode ser considerado uma espécie de “super herói”, um ser humano mais evoluído em relação aos de sua época, assim como Ulisses é retratado em Odisséia.

Outro ponto a ser destacado é a relação entre os monólitos do filme e os deuses do poema. Ambos parecem ter, de certa forma, a mesma função; nada no poema acontece sem a interferência dos deuses e nada no filme acontece sem a interferência dos monólitos. Da mesma forma que os deuses eram uma “ligação” entre Ulisses e Zeus, os monólitos são uma ligação entre Bowman e o planeta para o qual ele estava indo, Júpiter – nome este que, não coincidentemente, é o equivalente romano de Zeus.

No terceiro e último segmento, Bowman entra em contato com um dos monólitos e descobre nele um tipo de portal. Ao entrar em tal portal ele faz uma viagem espaço-temporal, se encontrando, ao final dela, dentro de um quarto branco. O personagem assiste seu próprio envelhecimento. Novamente aparece um monólito, dessa vez dentro do quarto. Bowman, moribundo na cama, aponta para o objeto, que o transforma em um feto. Na cena que encerra o filme observamos esse feto olhando de cima para a Terra, mais uma vez sugerindo que Bowman pertence a um tipo de raça humana superior.

Em alguns filmes recentes as referências a 2001 ficam bem claras. Um deles é Interstellar (Christopher Nolan, 2014), que conta a história de um grupo de cientistas que viaja no tempo por um buraco negro na tentativa de salvar a humanidade. Muito deste filme se assemelha à obra de Kubrick: a comunicação entre a tripulação da nave e seus familiares na Terra, os reflexos no capacete dos personagens, a cena da viagem no tempo e muitos outros detalhes. Há quem diga que Interstellar é um tributo a 2001, outros dizem que é a “resposta” para o filme.

Outro filme recente onde nota-se claramente as referências é Wall-E (Andrew Stanton, 2008), uma animação também sobre uma tentativa de salvar a humanidade. O robô que “comanda” a nave na animação é muito parecido com HAL (supracitado), tanto na aparência quanto na personalidade. A personagem EVE também lembra muito a cápsula EVA, utilizada por Bowman algumas vezes no filme.

A obra de Kubrick, no geral e especificamente 2001, não deixa suas marcas apenas no cinema, deixa também na música. Os membros da banda Pink Floyd escreveram juntos Echoes em 1970. A faixa dura 23:31 e existe uma sincronia entre ela e o último segmento de 2001. David Bowie gravou Space Oddity em 1969. A música narra a “odisséia” de Major Tom à Lua e o fim da história é um tanto triste: ele acaba sem comunicação com a base, “flutuando sobre a Lua” (como diz a letra da canção) e observando, de cima, a Terra. Pode-se dizer que foi o que aconteceu com David Bowman no filme.

Kubrick, em uma resposta a perguntas sobre qual o significado do filme, diz que sua intenção era de que o espectador tivesse uma experiência similar à de ouvir música, que experimentasse diferentes sensações. Nisso, com certeza, a obra não falha.

Esta resposta do diretor explica as muitas (e até bem diferentes entre si) interpretações sobre esse filme. Cada pessoa que se dispõe a assisti-lo, principalmente sem o amparo de leitura prévia sobre as possíveis interpretações, tem uma experiência diferente diante das imagens e sons – ou da ausência deles – aos quais é apresentada. Essas experiências geralmente são muito boas ou muito ruins, raramente existe um meio termo.

Considerando isso tudo, não é exagero dizer que 2001 vai muito além de um simples filme: é uma verdadeira obra de arte.

(Trabalho realizado em outubro de 2016, como parte da nota da disciplina de Latim, do curso de Letras Português/Inglês. A proposta do trabalho era relacionar uma obra cinematográfica à literatura greco-romana.)

Mariana Schweiger
Enviado por Mariana Schweiger em 13/05/2017
Reeditado em 13/05/2017
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