Resenha impressionista para série "Downton Abbey"

Recentemente, fiz uma “maratona” da série de televisão britânica Downton Abbey. Fiz literalmente “maratona”: organizei meus horários para assistir a um capítulo durante a minha caminhada diária na esteira em casa. Assisti à série caminhando, e cumpri bem mais do que os 42 quilômetros da modalidade, mesmo que fossem uns cinco quilômetros por vez!

Gostei muito da produção! Curto muito as histórias ambientadas na Inglaterra, tanto da época dos romanos, do tempo elisabetano, do século XIX (Sherlock Holmes, Sharpe, Jane Austen), e do início do século XX (Agatha Christie, e agora Downton Abbey), além, é claro, dos contos da Terra-Média. J

A trama é muito envolvente, pois é totalmente focada nos personagens, e eles encantam. Conseguimos nos identificar com quase todos eles, em suas alegrias, dificuldades e em seus conflitos. Os diálogos são ótimos, cheios “na medida” do fino humor inglês. Especialmente os segredos, intrigas e armações são os tópicos que movem a história. E nesse campo, Lady Violet é, sem dúvida, a melhor! Claro que, no fim, o “amor no coração”, a solidariedade, o afeto, a generosidade (ou se não tudo isso, a simples “educação”) resolve tudo.

A ambientação e os figurinos são um luxo! Absolutamente convincentes! São o próprio “retrato” da vida dos aristocratas do interior da Inglaterra do início do século passado. Adoro quando mostram as “inovações tecnológicas” da época (telefone, automóvel, gramofone, rádio, secador de cabelos, trabalho feminino!), e a reação dos diferentes personagens a cada uma delas!

Gostei dos paralelos entre os conflitos da família e dos trabalhadores. Os privilegiados “de cima” vivem na ociosidade e no fausto, com vidas vazias e fúteis, cercados de rituais e de empregados. Os oprimidos “de baixo” vivem tapeados pela ideia do “orgulho de servir” e sem perspectivas de melhoria de condições. Mas o conflito de classes praticamente não é mencionada em toda a história, onde todos “sabem o seu lugar”. L Mais ainda, a série mostra que, embora a “nobreza de nascimento” e a posse de terras e da mansão originem grandes diferenças gigantescas nas vidas das pessoas, também vemos que, em questões como doenças, velhice, acusação judicial, escândalo público, dor-de-cotovelo, tanto uns como outros sofrem.

Gostei muito da evolução de personagens como Edith, Tom e Violet e Isobel, e Gwen, Daisy e Molesley. Não curti o vai-e-vem do roteiro nas tramas sobre “quem vai ficar com (a insuportável “rainha”) Mary” e sobre as prisões do casal Anna e Bates. Acho que isso ficou sendo explorado como “novela brasileira”... uma trama enrolada que demora para terminar. Também não curti o fim dado para Thomas, pois não me convenci de que ele “mereceu”. :-}

Gostei muito das soluções inusitadas (ou, ao menos inesperadas) trazidas para personagens como Carson (dá-lhe sra.Hughes!), Sprat (!), Rose e Sybil. Gostei da forma como trataram a guerra, o divórcio, a “falência”... E, especialmente, é claro, os inúmeros preconceitos (social, racial, nacional, machista, econômico, ritualístico...) Creio que os vários conflitos daí decorrentes formam a base da história, que é fundamentalmente sobre a mudança do mundo e a necessidade de adaptação da vida de todas as pessoas a essas mudanças.