Resenha do filme - Poesia sem fim

“O primeiro passo para sermos livres é perceber o que nos prende”.

Alejandro Jodorosky

Existem poucos cineastas na história do cinema tão controversos e sem medo de criar conteúdo livre, experimental e Independente,como o cineasta Alejandro Jodorosky que, em seu último filme Poesia sem fim (2016) nos faz um convite para pensar sobre porque não utilizamos os limites em vez de sofrer com eles. Essa interrogação está presente durante todo o filme, que funciona como uma cura e ferramenta catártica para o presente do próprio autor.

Poesia sem fim tem um estilo surreal e onírico das vivencias do autor, cheios de hipérbole e simbolismo. Às vezes pode ser muito difícil de entender e às vezes muito óbvio, mas o cineasta cria um conglomerado imaginário que é caracterizado pela liberdade e irregularidade. A narrativa audiovisual, como é de costume pelo autor, desafia os olhos do espectador racionalista; a razão aqui é posta de lado.

A história mostra como o jovem Alejandro decide ser um poeta, mesmo que seu pai queira que ele seja um médico e tenha uma vida melhor que a sua, embora a ruptura com a sua árvore de família o leve a fugir de sua casa. Nesse momento, ele encontra outros personagens como ele mesmo, que estão procurando respostas à questões da arte e das experiências na vida; jovens escritores, como Stella Díaz Varín, Enrique Lihn e Nicanor Parra, entre outros que depois se tornariam pilares da literatura latino-americana moderna.

O filme está cheio de deliciosas imperfeições, além da estética incrível da fotografia feita pelo australiano Christopher Doyle, diretor de fotografia do filme 2046 de Wong Kar-Wai, além do desenho de produção de Pascale Montandon, a esposa de Jodorosky. É graças a eles que o filme mostra uma proposta que apresenta a beleza das coisas onde estamos acostumados ver só miséria e decadência, e cada cena se transforma em uma orgia visual com uma forma de resistência que ameaça todo o padrão.

Aliás, o roteiro nos mostra que querer vai infinitamente além de compreender, mas a vontade só adquire sentido apoiando-se nos limites do entendimento. E é assim, como o autor, através da psicomagia (técnica criada por ele mesmo que busca curar dos bloqueios emocionais através dos atos simbólicos), tenta achar essa resposta da alegria e sofrimento na própria infância e juventude.

Poesia sem fim é como um monólogo complexo de entender ao ter um vocabulário de diálogo interior surrealista, com a eficácia visível do invisível, de como a dor humana pode ser curada paulatinamente, e como verdadeiramente as coisas do passado nos impedem de viver em nosso presente, já na vida adulta. Não obstante, será que é a primeira vez que um filme é utilizado como um tratamento ou “cura”? Ou é que talvez estamos esquecendo que o cinema é antes de tudo uma sétima arte, uma expressão de liberdade do subconsciente através da magia do cinema?

Direção: Alejandro jodorowsky

Roteiro: Alejandro jodorowsky

Fotografia: Christopher doyle

Montagem: Maryline monthieux

Música: Adan jodorowsky

Trailer aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Sqz54sT9zcc

Luizinho Mano
Enviado por Luizinho Mano em 06/04/2017
Reeditado em 06/04/2017
Código do texto: T5963176
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